D. Américo: "Ninguém sonha ser cardeal, só se não tiver juízo"

Jornada Mundial da Juventude 10 julho 2023  •  Tempo de Leitura: 7

"Acho que é uma homenagem à juventude portuguesa", afirmou o bispo auxiliar de Lisboa em declarações aos jornalistas no Entreposto Logístico de Setúbal, onde voluntários preparam a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que vai acontecer em Lisboa e em Loures, na primeira semana de agosto.

 

Américo Aguiar, o bispo auxiliar de Lisboa responsável para organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), vai passar a cardeal a 30 de setembro. A notícia foi avançada pela Renascença, depois de o Papa Francisco ter anunciado esta manhã a marcação de um consistório para criação de novos cardeais.



"Eu li [a decisão] como um gesto do Papa Francisco em relação aos jovens e ao que nos diz insistentemente, de os jovens se levantarem e assumirem o protagonismo nas suas vidas. Somos meros intermediários que vamos ajudar a que isso possa ser ainda mais incentivado junto dos jovens", disse Américo Aguiar, que é também o responsável máximo da Igreja Portuguesa pela realização da JMJ.

 

O bispo auxiliar de Lisboa admitiu ter sido surpreendido com a notícia, considerando que o cargo de cardeal representa uma responsabilidade acrescida e que a decisão do Papa não teve a ver com as suas competências, mas sim com a dedicação dos jovens envolvidos na preparação e realização da JMJ.



"Ninguém sonha ser cardeal, acho eu, só se não tiver juízo", apontou Américo Aguiar, com humor.

 

O bispo chegará, assim, a cardeal ainda antes de fazer 50 anos, que só completa em dezembro, passando a fazer parte do grupo restrito que vai eleger o novo Papa. E Portugal passará, assim, a ter quatro cardeais eleitores, todos eles já feitos cardeais por Francisco.: Américo Aguiar junta-se a Manuel Clemente, António Marto e Tolentino Mendonça. Os outros cardeais portugueses - Manuel Monteiro de Castro e José Saraiva Martins - já ultrapassaram os 80 anos, pelo que já não são eleitores.

 

Nascido em Leça do Balio a 12 de dezembro de 1973, numa família com pouca ligação à Igreja Católica, Américo Aguiar aproxima-se dos movimentos católicos pelos escuteiros. Torna-se também um “radical ambientalista” em defesa do Rio Leça. Durante uns anos foi conjugando a fé a política, chegando a ser deputado municipal em Matosinhos e militante do PS.

 

Entrou para o seminário aos 21 anos e, logo por lá, ganhou a alcunha de “cardeal Américo”. Ordenado padre em 2001, rapidamente se tornou uma espécie de braço direito dos bispos do Porto, primeiro como diretor do gabinete de comunicação, depois como vigário-geral e chefe de gabinete. É daí a sua ligação a Manuel Clemente, que acompanhou entre 2007 e 2013 como bispo do Porto. A sua liderança da Irmandade dos Clérigos e a recuperação que promoveu do monumento também ajudaram à sua projeção.

 

Quando veio para Lisboa, o agora Patriarca Clemente rapidamente o tentou trazer para a capital, onde foi acumulando cargos e responsabilidades: presidente da administração da Renascença, da comissão diocesana de proteção de menores (cargo que deixou recentemente), presidente da organização da JMJ. Em 2019 foi nomeado bispo auxiliar de Lisboa e, desde então, é visto como um dos eventuais sucessores de Manuel Clemente, que completa os 75 anos no dia 16 deste mês.

 

Aos 75 anos todos os bispos entregam a sua resignação ao Papa, que ainda os pode manter no cargo por alguma tempo. Contudo, Manuel Clemente tem dado sinal de que pretende mesmo sair aos 75: ainda em abril, na missa crismal, deu um tom de despedida de funções. Mesmo quando deixar de ser Patriarca de Lisboa, continuará a ser cardeal e até aos 80 anos terá voto no conclave (reunião em que são eleitos os paps).

 

Ao longo dos últimos anos, Américo Aguiar tem ido várias vezes a Roma para encontros com o Papa de preparação da JMJ, fazendo sempre questão de divulgar fotos e vídeos com Francisco. A sua escolha para cardeal tanto pode ser interpretada como um sinal de que será de facto o sucessor - já que o lugar de Patriarca de Lisboa implica, tradicionalmente, o cardinalato - como pode ser indicativa de que o Papa pretende colocá-lo à frente de algum serviço do Vaticano.

 

“Seja o que Deus quiser”, respondeu em fevereiro ao Expresso quando questionado sobre a hipóteses de ser bispo titular de Lisboa.

 

Igreja mais universal

Lista dos cardeais anunciados este domingo pelo Papa Francisco, com indicação do cargo atual e do país de origem:

 

Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos (EUA)

Claudio Gugerotti, prefeito do Dicastério para a Igreja Oriental (Itália)

Víctor Manuel Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé (Argentina)

Emil Paul Tscherrig, núncio apostólico (Suíça)

Christophe Louis Yves Georges Pierre, núncio apostólico (França)

Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém (Itália)

Stephen Brislin, Arcebispo da Cidade do Cabo (África do Sul)

Ángel Sixto Rossi, arcebispo de Córdoba (Espanha)

Luis José Rueda Aparicio, arcebispo de Bogotá (Colômbia)

Grzegorz Rys, arcebispo de Lodz (Polónia)

Stephen Ameyu Martin Mulla, arcebispo de Juba (Sudão do Sul)

José Cobo Cano, arcebispo de Madrid (Espanha)

Protase Rugambwa, arcebispo coadjutor de Tabora (Tânzania)

Sebastian Francis, bispo de Penang (Malásia)

Stephen Chow Sau-Yan, bispo de Hong Kong (China)

François-Xavier Bustillo, bispo de Ajácio (França)

Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa (Portugal)

Ángel Fernández Artime, superior dos Salesianos (Espanha)

Agostino Marchetto, núncio apostólico (Itália)

Diego Rafael Padron Sanchez. arcebispo emérito de Cumaná (Venezuela)

Luis Pascual DRI, confessor no Santuário de Nossa Senhora de Pompei, em Buenos Aires (Argentina)

 

“A sua proveniência exprime a universalidade da Igreja, que continua a anunciar o amor misericordioso de Deus a todos os homens da terra”, disse o Papa este domingo, no anúncio dos nomes dos novos cardeais. Francisco tem apostado numa diversificação do colégio cardinalício, de forma a que tenha uma composição mais coerente com a diversidade da Igreja Católica e menos centralizada na Europa.

 

[Eunice Lourenço]

O portal iMissio é um projeto de evangelização iniciado em 2012, que tem tido como objetivo dar voz a uma comunidade convicta de que a internet pode ser um ambiente de evangelização que desafie o modo de pensar a fé. Tem pretendido ser espaço de relação entre a fé, a vida da Igreja e as transformações vividas atualmente pelo Homem.

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