Escola criada por Bergoglio abriu as portas de Cascais ao agora Papa
Quando, no passado dia 6 de Junho, o Vaticano divulgou o programa da visita do Papa a Portugal, o plano apresentava algumas surpresas. Uma delas era a de que Cascais se juntava a Lisboa, Oeiras e Loures nas cidades que receberiam Francisco. Não foi, porém, uma surpresa para Carlos Carreiras, presidente da autarquia cascalense, pois a visita já vinha a ser aflorada “por vontade do santo padre” desde 2019, pelo facto de Cascais ser a sede da Scholas Occurrentes. Um estabelecimento de ensino que visa a inclusão criado pelo então arcebispo Jorge Bergoglio, hoje Papa, em Buenos Aires, em 2001, e que se espalhou por cerca de 190 países.
O Papa Francisco estará em Portugal entre os dias 2 e 6 de Agosto, a propósito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). A visita a Cascais está agendada para o dia 3, estando apenas previsto um encontro com os jovens da Scholas Occurrentes na sede do ensino, a antiga escola Conde Ferreira. Uma visita curta, mas que os responsáveis pela Câmara Municipal de Cascais (CMC) dizem estar a preparar “com empenho para que tudo corra pelo melhor”.
“A organização de um evento mundial com a dimensão da JMJ está sempre sujeita a surpresas e com certeza vamos ter de recorrer ao velho desenrascanço, mas estamos a trabalhar há muito tempo para que não haja falhas”, disse ao PÚBLICO Carlos Carreiras (PSD), presidente da CMC.
A autarquia criou mesmo nove comités organizadores paroquiais espalhados por diversas freguesias do concelho e organiza reuniões regulares com todos os intervenientes “para preparar tudo da melhor forma”.
Não é só a visita do Papa que está causa. O município vai alojar cerca de 60 mil peregrinos, que serão distribuídos por escolas e pavilhões desportivos, e, em colaboração com as juntas de freguesia, quer garantir “as melhores condições de alojamento, transporte e segurança para a JMJ”.
A estes 60 mil peregrinos – “a maioria da comunidade espanhola que nos visitará” –, a autarquia estima que, em algumas ocasiões, se possam juntar em Cascais “cerca de 250 mil pessoas” a propósito das actividades da jornada previstas para o concelho. “Se assim for, será o dobro da actual população. Temos de estar preparados”, acrescenta Carreiras.
Esta primeira visita de um Papa a Cascais “é um privilégio e uma honra e tem uma enorme importância para a cidade e o concelho”. “Esperamos que venha a ter impactos positivos junto dos jovens, mas também na população em geral. Depois dos tempos terríveis com a pandemia e, a seguir, com vários conflitos bélicos e crises de refugiados, esperamos que este seja um momento de renovar a esperança, um sinal de que há um futuro positivo. É preciso reumanizar o mundo. Esperemos que este seja um sinal de ar fresco, um voltar a acreditar num mundo melhor”, salienta o presidente da autarquia.
A visita do Papa, a recepção de peregrinos e tudo o que rodeia JMJ e as actividades a realizar no concelho levaram o município a realizar um investimento de cerca de 1,5 milhões de euros. Carlos carreiras explicou ao PÚBLICO que a CMC se comprometeu a pagar os paramentos e as alfaias (utensílios) que os padres vão usar em todas as cerimónias religiosas, com uma verba que ronda os 500 mil euros. Um acordo que permite que “os paramentos usados pelo santo padre fiquem em Cascais” depois de finda a JMJ.
Outros 500 mil euros, igualmente a cargo da autarquia, servirão para custear os kits/mochilas que vão ser entregues aos peregrinos – “todos eles também levam uma referência a Cascais” – e os restantes 500 mil euros são para outros encargos do município com a realização dos eventos em torno da JMJ.
Mural de pano com 3km
Um destes eventos é a construção de um mural com uma extensão de três quilómetros, que, a ser conseguido,” representará um recorde do mundo”, pois o maior até hoje construído é de 1,9 quilómetros. “Quando os jovens [da Scholas Occurrentes] me falaram nisso fiquei preocupado. ‘Onde é que eu vou arranjar um muro com este tamanho’, pensei na altura. Depois explicaram-me que seria um mural em pano e fiquei mais descansado”, explicou o autarca.
O mural será pintado pelos jovens da maioria das escolas do concelho, “públicas e privadas”, “pelos jovens há mais tempo” (os mais velhos), pelos jovens dos bairros sociais e pelos reclusos e reclusas dos estabelecimentos prisionais do Linhó e de Tires.
“O mural irá acompanhar todo o percurso que o Papa fará no concelho e, depois da visita, será cortado em cerca de 600 panos, que serão enviados para as diversas conferências episcopais de todos os países que estiveram na JMJ”, explicou Carlos Carreiras.
Quando o Papa partir para o Vaticano e depois de as jornadas serem encerradas, o autarca cascalense diz que “o que vai valer é o que ficar para o futuro”.
“Penso que vai deixar uma comunidade mais unida e uma juventude com uma esperança renovada e mais forte”, concluiu Carlos Carreiras.
A Scholas Occurrentes, cuja sede em Cascais foi inaugurada em Março de 2019, nasceu na Argentina em 2001 por vontade do então arcebispo de Buenos Aires, hoje Papa, para apoiar jovens carenciados. É uma organização internacional de direito pontifício, actualmente presente em 190 países dos cinco continentes, que, através da sua rede, integra meio milhão de redes educativas e chega a mais de um milhão de jovens, numa iniciativa que visa criar uma rede de escolas para a inclusão, com recurso ao desporto, à arte e ao pensamento.
[@Público]