Português em Roma, 1986, “Vimos que afinal o Papa também era como nós”

Jornada Mundial da Juventude 24 julho 2023  •  Tempo de Leitura: 6

João Paulo Marques tinha apenas 24 anos e estava a meses de ser ordenado padre quando, em março de 1986, surgiu a oportunidade de participar num momento histórico para a Igreja Católica, em Roma. O Papa com o qual partilhava o nome chamara jovens de todo o mundo para aquela que se tornou na primeira Jornada Mundial da Juventude (JMJ). O sacerdote das paróquias de Valongo do Vouga e Macinhata, em Águeda, guarda “sobretudo memórias” de um momento em que esteve próximo de João Paulo II.

 

“Um encontro que tivemos com o Papa foi extraordinário porque, para nós, a proximidade com uma figura destas não é o que é hoje. Hoje, é fácil toda a gente estar perto de toda a gente”, recorda o padre João Paulo Marques, que ainda se lembra da “preocupação de levar roupas típicas de cada sítio” e até de como estavam “muito stressados” antes de João Paulo II entrar na sala.

 

Mas, em instantes, tudo se alterou. “O Papa entrou com um entusiasmo fantástico e duma forma que nos deixou todos à vontade porque vimos que, afinal, ele também era como nós”, reflete o sacerdote, que participou na primeira JMJ “um bocadinho por acidente”.

 

“Na altura eu estava envolvido na Pastoral juvenil, a nível nacional, e acabei por ser também envolvido sem ter noção da grandiosidade que o acontecimento ganhou. Acho que ninguém, nessa altura, tinha essa noção. Provavelmente, só o Papa João Paulo II”, conta.

 

“A sopinha que faz sempre bem aos portugueses” numa viagem “de improviso”

 

Há 37 anos, a viagem para Roma “foi um improviso próprio daquela época”, que envolveu “um automóvel e dormir nas áreas de serviço das autoestradas”, mas há coisas que nunca podem faltar aos portugueses.

 

“Levámos um fogãozinho para cozinhar pelo caminho, sobretudo uma sopinha, que faz sempre bem aos portugueses”, recorda o padre João Paulo Marques, que agora se prepara para acolher nas suas paróquias 200 peregrinos de vários pontos do mundo.

 

Uma experiência “emocionante”, numa cidade que não conheciam, cheia de gente, ainda que “muito menos do que hoje em dia”.

 

“Um bocadinho mais ovelhas”, mas prontos a mostrar “que eram Igreja”

 

Há mais de 30 anos, os jovens não tinham tanto espaço na Igreja Católica, reconhece o sacerdote.

 

“Estávamos a fazer um período de transição em que os jovens não tinham nem vez, nem voz, para um período em que passaram a ser um bocadinho agarrados pela Igreja como os agarravam outras associações, nomeadamente os partidos políticos”, descreve o padre João Paulo Marques, explicando que os jovens “eram pouco ouvidos, pouco participativos”.

 

Criou-se então, por altura da primeira JMJ, uma nova dinâmica.

 

“Essa dinâmica que se criou em Portugal era muito nesse sentido, no sentido de fazer com que se tomasse consciência que os jovens não eram da Igreja, eram Igreja também eles e, por isso, se criaram grupos paroquiais por esse País todo, fizeram-se guiões de estudo, de reflexão, de propostas para que os jovens assumisse a Igreja como sua”, conta ainda.

 

Tudo isto “de uma forma muito passiva”, é certo, e que nada tem que ver “com o que aconteceu hoje”, em que se vive “um período da indiferença” no qual se procura “uma relação com Jesus Cristo e o seu projeto, do que propriamente a Igreja”. Ainda assim, há hoje “uma exigência diferente que, nessa altura, não existia e éramos um bocadinho mais ovelhas”, assume o pároco.

 

A JMJ não é “para vedetas” nem para agradar a Deus

 

Às portas de mais uma edição, ainda com o espírito da primeira bem presente, o padre João Paulo Marques destaca a importância de Portugal acolher um evento desta dimensão.

 

“É muito importante no sentido de nos abanar também enquanto Igreja para sentirmos a necessidade de uma renovação profunda nas nossas estruturas, na nossa capacidade de dar respostas às necessidades novas”, adianta, recordando a convocatória que o Papa fez para o Sínodo.

 

Francisco “chama-nos à atenção para a necessidade de percebermos que somos a mesma Igreja num mundo completamente diferente”.

 

Para o sacerdote, participar na JMJ “significa uma colaboração humilde, mas ao mesmo tempo marcante”.

 

“Isto não é para vedetas, para isso há sítios próprios por aí nos festivais. Isto é para servidores e servidores de uma causa que abraçamos, que amamos e que queremos que tenha lugar no nosso mundo, não para agradar a ninguém, nem ao próprio Deus, que não está preocupado com isso, mas sobretudo porque este é o projeto de felicidade que sonhamos para o mundo em que vivemos”, conclui o sacerdote.

 

[Cláudia Machado| Paulo Ravara |Sérgio Campos]

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