Diário da JMJ 1 - As jornadas que não se veem

Jornada Mundial da Juventude 2 agosto 2023  •  Tempo de Leitura: 5

Este fim de semana ouvi o jornalista Joaquim Franco dizer que nenhum meio de comunicação social, por mais meios que tenha, consegue transmitir por completo o que se passa numa Jornada Mundial da Juventude. Como é natural, os meios vão estar concentrados nos eventos principais, nas palavras e nos gestos do Papa, nas informações úteis sobre transportes e segurança, enquanto muito mais vai estar a acontecer em vários pontos das dioceses de Lisboa, Setúbal e Santarém. E nos corações e nas almas de milhares de peregrinos.

 

Cada Jornada Mundial da Juventude é única. Tem uma componente universal – os jovens descobrirem-se parte de uma multidão alegre e celebrante -, mas aquilo que é mais marcante para cada um pode ser do mais diverso tipo e acontecer em qualquer lado.

 

A minha primeira JMJ foi Paris-1997. “Vinde e Vede” era o tema, a resposta de Jesus à pergunta “Mestre, onde moras?” Fui uma das responsáveis por um grupo de 50 jovens da minha vigararia de Alenquer. Fomos de comboio fretado para toda a diocese de Lisboa até Paris.

 

Descobri essa alegria de fazer parte de uma multidão de muitas línguas e muitos povos logo na celebração de abertura celebrada pelo então bispo de Paris, o cardeal Lustiger, mas também num encontro casual com jovens libanesas na fila para a Ópera de Paris ou no dia-a-dia com dois italianos em casa da Madame Nicole que nos acolheu em Sartrouville. Fomos peregrinos e turistas, fomos às catequeses e às missas, mas também passeámos de Bateau-mouche e subimos ao Sacré-Coeur. Vimos o Papa em Champ des Mars e no hipódromo de Longchamps, que foi pequeno para as celebrações finais e também passámos horas nos transportes e nas filas para as casas de banho. Mas o que me marcou dessa jornada foi uma catequese dada pelo então arcebispo coadjutor de Lisboa José Policarpo numa igreja algures em Paris. Cruzar o nosso olhar com Cristo “é tramado”, dizia ele, desafiando-nos a que deixássemos que o nosso olhar se cruzasse com o de Jesus.

 

Cheguei a Roma três anos depois como chefe do autocarro 9, um dos 45 autocarros levados pela Diocese de Lisboa. Éramos mais, muitos mais, na Jornada do Jubileu. Os romanos pareciam ter quase desaparecido para que aquela multidão de jovens tomasse as ruas e as praças a cantar, a gritar, a fazer festa e comer gelados. Foi a Jornada da minha vida. E o meu momento da jornada foi vivido na oração pessoal numa visita à igreja de Santa Maria Maior, quando percebi que Marta e Maria podem ser faces da mesma vida, que podemos ser as duas na mesma pessoa.

 

À Jornada de Colónia, em 2005, cheguei mais movida pela curiosidade de jornalista do que pela devoção: como iria ser a primeira JMJ sem o criador, João Paulo II? O Papa polaco tinha morrido quatro meses antes e Ratzinger teria ali a sua primeira prova como Bento XVI. A cerimónia de acolhimento ao Papa, que chegou de barco, com o Sol a brilhar e os peregrinos a colorirem as margens do Reno foi a prova: não importa quem é Pedro, o que importa é Cristo que nos une. Com Bento entraram nas JMJ duas vertentes da vida católica: a Adoração ao Santíssimo Sacramento, na vigília, e um Parque do Perdão, com confessionários.

 

A minha última JMJ foi Madrid-2011 e, ali, no aeródromo de Quatro Vientos, sei que vivi um milagre quando desabou uma tempestade sobre a multidão e permanecemos firmes nos nossos locais, enquanto os raios rasgavam os céus, os trovões calavam as vozes e um dilúvio caia sobre nós. O Papa Bento, um ponto branco lá longe, também permaneceu, apesar de o quererem tirar do altar por segurança, mas aquele ponto branco terá sido essencial para evitar uma debandada geral que poderia ter causado um desastre.

 

Agora, contava viver uma JMJ como anfitriã, recebendo peregrinos na minha casa e na minha paróquia. Seria, como para muitos da minha geração, uma forma de retribuir a hospitalidade que vivemos há mais de 20 anos. Mas não chegaram até aqui. Vou viver a Jornada de Lisboa a acompanhar os adolescentes e jovens da Unidade Pastoral da Merceana e tentarei contar, por aqui, o que formos vendo e vivendo, que será sempre só uma muito pequena parte do muito que estará a acontecer.

 

[@Eunice Lourenço]

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