Diário da JMJ 5 - A universalidade da missa

Jornada Mundial da Juventude 4 agosto 2023  •  Tempo de Leitura: 4

Esta quinta-feira, quando me aproximava do centro de imprensa, reparei que estava muita gente junto à igreja de S. Sebastião da Pedreira, ali bem no centro de Lisboa, entre o Pavilhão Carlos Lopes e a Maternidade Alfredo da Costa. Deve ser hora do fim das catequeses, pensei, vou ver se há missa.

 

Quando entrei a missa já tinha começado. Pareceu-me ser em alemão, mas, quando perguntei à pessoa ao meu lado, disse-me que era colombiana com um ar de quem estava a perceber menos daquela língua do que eu. Decidi ficar. Um dos sinais da universalidade da Igreja Católica é ser possível a qualquer batizado participar na missa, seja em que língua for, desde que conheça os ritos.

 

A meio da homilia lá percebi que o bispo falava da Ucrânia. No fim, cruzei-me com o padre Faustino, prior da paróquia, que me explicou que o bispo era ucraniano, mas também estavam presentes um bispo alemão, outro austríaco e outro dinamarquês e que, pelo menos, estas três nacionalidades também eram as dos peregrinos, porque austríacos e dinamarqueses percebem bem a língua alemã. A seguir ia ser celebrada missa em inglês.

 

Segui para o centro de imprensa a pensar na universalidade da Igreja. Aprendi na catequese que em cada missa é como se estivesse lá a Igreja toda. Não a igreja-tempo, nem a igreja-hierarquia, mas todo o Povo de Deus da Terra e do Céu.

 

A Igreja Católica, contudo, também vive tempos de divisão, de tensão, de polarização, como dizia, em abril, o superior dos jesuítas ao Expresso. “ Há uma polarização incrível na sociedade e na política e isso é transportado para dentro da Igreja, claramente”, dizia então o padre Miguel Almeida, reconhecendo as “tentativas de personificação de dois polos no Papa Bento e no Papa Francisco”.

 

Essa polarização – em que também pensei quando vi algumas jovens alemãs de véu na missa em S. Sebastião – atingiu também esta quinta-feira a JMJ, numa igreja de Lisboa, quando um grupo de católicos começava a celebrar a missa e outro grupo os interrompeu como se não fossem dignos de participar na principal oração da sua religião.

 

“Na Igreja há espaço para todos e, quando não houver, por favor façamos com que haja, mesmo para quem erra, para quem cai, para quem sente dificuldade. Todos! Todos! Todos!”, disse horas depois o Francisco, no Parque Eduardo VII. Para esta Papa, a regra é acolher e integrar, porque Jesus também tornou seus discípulos homens marginalizados. "O Senhor não aponta o dedo, mas alarga os braços: assim no-Lo mostra Jesus na cruz. Não fecha a porta, mas convida a entrar; não mantém à distância, mas acolhe”, disse Francisco horas depois, saudados por centenas de milhar no Parque Eduardo VII, transformado em Colina do Encontro durante esta semana.

 

A acústica no Parque era péssima e na Avenida da Liberdade não haveria sequer colunas de som. Os peregrinos, neste encontro como noutras jornadas, aplaudem o Papa mesmo não percebendo muito do que está a dizer. Muitas vezes só tomam conhecimento do que foi dito quando voltam às suas terras ou mesmo nos meses seguintes quando em grupo leem e refletem sobre as mensagens da Jornada. Mas pelo menos duas frases terão ressoado neste primeiro encontro entre os peregrinos e o Papa: quando repetiu “Todos” Todos! Todos!” e quando pediu “Digam todos: Deus ama-nos”. E ainda pediu que repetissem porque lhe soou fraca a resposta. Como diz Jesus no Evangelho de S. Mateus “quem tem ouvidos, oiça”.

 

[Eunice Lourenço]

O portal iMissio é um projeto de evangelização iniciado em 2012, que tem tido como objetivo dar voz a uma comunidade convicta de que a internet pode ser um ambiente de evangelização que desafie o modo de pensar a fé. Tem pretendido ser espaço de relação entre a fé, a vida da Igreja e as transformações vividas atualmente pelo Homem.

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