A vida é um carrossel. Vens?
Fecha os olhos. Agarra-te bem. Se quando abrires os olhos não tiveres força, então abre as asas. Essas que te levam para onde não sabes que precisas de ir. Fecha os olhos. Abre as mãos. Se não conseguires ver nada quando os abrires, fecha-os outra vez e voa. É isto a vida. Voar quando se perde o pé. Correr quando nos depenam as asas que nos imaginamos ter quando tudo o resto nos falha. É isto, a vida. Querer tudo ao mesmo tempo. Não guardar nada para amanhã. Ter medo que o mundo acabe no segundo que a segue e que não tenhamos tempo para mais nada. É isto, a vida. Querer rebolar no tempo como quem rebola na relva fresca e brincar com ele ao quem-manda-sou-eu. Ri-se de nós, o tempo. E come pipocas enquanto nos vê pensar que somos donos dele. É isto, a vida. Fechar os olhos e ser outra vez criança ao colo da mãe. É isto, a vida. Ter uma criança ao nosso colo e sentir que, de repente, também podemos ser mãe. Mesmo que isso nunca seja possível. É isto, a vida. Estar ao colo de quem nos quer bem, ainda que estejamos longe. É ter a coragem para ser colo para um velhinho que já se esqueceu do seu. É rastejar atrás dos nossos sonhos até ferir os joelhos. Do corpo e da alma. É ser livre o suficiente para poder estar triste como se a noite fizesse casa em nós ou para poder estar alegre, como se o dia amanhecesse entre os nossos braços. É isto, a vida. Ter duas mãos cheias de amigos e depois, quando o caminho se estreita e se afunila, já só ter um terço de meia dúzia. É não achar pouco esse terço de meia dúzia e amá-lo com a gratidão de quem nunca perdeu. É parar e beijar as feridas de quem já está cansado do caminho, ainda que depois ninguém se lembre das nossas. A vida não retribui nada a quem faz. A retribuição é o privilégio de poder fazer sempre diferente do que nos fizeram a nós. É isso que faz de nós pequenos o suficiente para ser grandes. É isto, a vida. Saber que há alguém que cuida de nós quando a vida nos adoece ou apodrece. E é saber que quem está doente é sempre pequenino como uma criança de colo. É isto, a vida. Uma aventura obrigatória que nos faz valer a pena. Tens que valer a pena, tu também. É isto, a vida. Um chocolate embrulhado num papel bonito. Pode ser ou não aquele que querias. É isto, a vida. Dá-nos a chuva para que possamos chorar de alegria quando volta o sol. É isto, a vida. Ter sempre as malas feitas para ir onde o coração nos mandar. É nunca ficar com o que há. É escavar caminhos mais bonitos mesmo quando não há pá. Escava-se com as unhas, se for preciso. É não deixar nada por dizer. Não esperar por outro dia. É acampar à beirinha dos sonhos que temos e acordar dentro deles no dia seguinte. É deixar tudo para ser inteiro. É ir para a frente quando te dizem que não és capaz. É ser capaz, quando nem mesmo tu acreditas nisso. É lançar-se. É fazer laço desse nó que a vida às vezes nos ata ao pescoço. É isto, a vida. E vale tanto a pena.
A vida é um carrossel de onde ninguém sai ileso. Mas vai valer a pena. Vens?
[photo credit: Särkänniemi via photopin (license)]