Diariamente, chegam imagens que “obrigam-nos” a tomar consciência da gravidade de tantos acontecimentos de violência. A tragédia do Quénia… Como é possível, ainda hoje, tanta violência contra os cristãos? Tanto sofrimento injusto e desumano? Por que é que o martírio voltou a ser tão atual e tão dramático?
Verdadeiramente o “testemunho de sangue” sempre existiu, ainda que o último século o número de mártires cristãos tenha aumentado dramaticamente.
Faz hoje 70 anos, que o pastor evangélico Dietrich Bonhoeffer foi enforcado na prisão de Flossenburg. Acusado de ter participado no atentado contra Hitler. Os seus textos e as suas cartas escritas na prisão, transformaram-se numa “seiva” para a vida espiritual de muitos cristãos e entre estes, muitos católicos.
O bispo Óscar Romero foi assassinado à 35 anos enquanto celebrava a Eucarístia, mesmo no momento em que elevava o “Corpo e Sangue de Cristo”… Romero será beatificado no próximo dia 23 de Maio. Bento XVI desbloqueou o seu processo e o Papa Francisco, acelerou-o. No entanto, já há muito é venerado pelas outras Igrejas. Em 1998, a rainha Isabel II esteve presente na cerimónia em que os Anglicanos inauguraram uma estátua na porta ocidental de Westminster, ao lado de outros mártires do século XX: Dietrich Bonhoeffer, Martin Luter King, Maximiliano Kolbe. Na Catedral Nacional Episcopaliana de Washington, está lá outra.
Milad Makeen Zaky, Abanoub Ayad Attiya, Maged Soliman Shehata, Youssef Shukry Younan, Kyrillos Shukry Fawzy, Bishoy Estefanous Kamel, Samuel Estefanous Kamel, Malak Ibrahim Sinout, Tawadros Youssef Tawadros, Girgis Milad Sinout, Mina Fayez Aziz, Hany Abdel-Messih Saleeb, Bishoy Adel Khalaf, Samuel Alham Wilson, Ezzat Bishri Naseef, Lucas Nagati, Gaber Munir Adly, Essam Baddar Samir, Malak Farag Abram, Sameh Salah Farouq, Mina Shehata Awad. São os nomes dos 21 cristãos Coptas, mortos em Fevereiro pelos Jihadistas do estado islâmico, na Líbia.
Como escreveu Enzo Bianchi, o Papa Francisco não hesitou e comemorou numa eucaristia católica os cristãos de outra confissão: “Oferecemos esta missa pelos nossos 21 irmãos coptas abatidos pelo único motivo de serem cristãos… Rezemos por eles, que o Senhor os acolha como mártires, pelas suas famílias, pelo meu irmão Tawadros (Patriarca Copta) que tanto sofre”.
Luteranos, Católicos, Coptas… Uma lista longa de mártires que une as diversas confissões cristãs. O Papa Francisco, chamou-lhe o “Ecumenismo do Sangue”. Disse aos representantes da Igreja Reformada da Escócia: “O sangue dos nossos irmãos cristãos é um testemunho que grita. Sejam católicos, ortodoxos, coptas, luteranos, não importa. O sangue é o mesmo. O sangue testemunha Cristo. Os mártires são de todos os cristãos”.
Já o tinha escrito João Paulo II, na carta apostólica “Tertio Millenio Adveniente”, em preparação para o Jubileu de 2000: “O ecumenismo dos mártires é, talvez, o mais convincente, a communio sanctorum fala mais alto do que todos os fatores de divisão”.
As causas sociológicas e politicas que motivam estas perseguições podem ser muitas. Mas o que me interessa aqui salientar é que, esta oferta total e cruenta da vida será sempre atual. Ela é o “coração” do acontecimento Pascal! A “verdadeira” Páscoa! Portanto, é parte constituinte da fé em Jesus! Jesus é o mártir por excelência. Aquele que deu testemunho até ao fim, do amor do Pai pelo ser humano.
