«Ver para crer, como São Tomé!»
Confesso que gosto de São Tomé. Sinto-me como ele na necessidade de querer ver, no querer tocar. Muitas vezes sinto a minha incredulidade, tenho as minhas dúvidas... Esta dúvida tantas vezes banida da linguagem dos crentes... Para mim, a fé, não é uma certeza e "ponto final, parágrafo!" Existem dias, que sim e outros, que não... Gosto de me sentir parecido com este apóstolo.
São Tomé é um dos que, deixando tudo, seguiram Jesus. É um homem generoso que confiava no Mestre. Como homem tinha as suas fraquezas, mas era corajoso. Em Jo 11, vemos esta coragem, quando Jesus se desloca para Betânia, muito próximo de Jerusalém, onde O queriam apedrejar. Perante o medo dos outros apóstolos, Tomé foi o único que avançou: «Vamos também nós, para morrermos com ele!» (v. 16)
A fé não é uma experiência fácil. Para a maioria das pessoas, é bem difícil. Mesmo para aqueles que se autodenominam de católicos "praticantes", com uma prática regular, sentem que a fé não é algo de muito pacífico. E podemos ver isso, já no Antigo Testamento, com Moisés, David ou mesmo com Jacob (Gén 32, 23-30). São caminhos de fé nada lineares e fáceis. Estes homens, "privilegiados" da ação de Deus, viveram mais do que certezas, muitas tensões e dúvidas. E isto, porque Deus é outro, é o outro, está para lá do que conhecemos e sabemos, sempre para lá da nossa experiência, dos nossos sentidos. Desta forma, julgo eu, a única forma de entrar em relação com Ele, para permanecer em relação com Ele, é necessário questionar sempre a nossa realidade, a nossa crença, a nossa fidelidade e a nossa vivência.
Se medito sobre a vida dos grandes santos, vejo-os com estas crises de fé. Santa Teresinha de Lisieux, "falou-nos" das suas «noites de fé» como experiências de muita dor. Madre Teresa de Calcutá, que será canonizada brevemente, deixou escrito as "ausências de Deus", como que não fosse querida por Ele…
É também, graças à sinceridade da fé de Tomé, que Jesus se revela como «o caminho, a verdade e a vida» (Jo 14, 4-6). A dúvida não é o contrário da verdade. É antes de mais, o contrário do dogmatismo. E não é o relativismo, basta ver a reação de São Tomé ao ver Jesus. Quem duvida e procura é porque tem fé. A fé é uma busca contínua. Quem deixa de procurar ou aprofundar a sua fé, é porque deixou de acreditar…
Para mim, a fé não é algo definitivo, uma certeza estática e absoluta. É antes uma busca incessante que só se extinguirá no encontro definitivo com Deus. Dia após dia, esta dúvida leva-nos a avançar um pouco, sempre na fragilidade de quem procura o encontro face a face com Deus, para que, como São Tomé, possamos dizer: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20, 28).
Continuação de uma Boa Páscoa.
[Foto: © Jacques COUSI CIRIC]