Missa em Santa Marta: Não rezar pelos políticos é pecado

Vaticano 19 setembro 2017  •  Tempo de Leitura: 9

«Não rezar pelos governantes é um pecado que deve ser confessado». E esta oração deve ser feita sobretudo «para não deixar sozinhos» quantos têm menos consciência» que o seu poder não é absoluto, mas vem do povo e de Deus. Contudo, também «os governantes devem rezar para pedir a graça» de servir da melhor maneira o povo que lhe foi confiado. E se não são crentes, pelo menos peçam conselhos para não perder de vista o bem comum e para sair, contudo, do pequeno contexto autorreferencial do próprio partido.

 

Foi um verdadeiro “manual do bom político” aquele que o Papa Francisco sugeriu na manhã de segunda-feira, 18 de setembro, celebrando a missa em Santa Marta. Ao comentar as leituras da liturgia, o Pontífice realçou imediatamente que «no centro há os governantes». Na primeira leitura, tirada da primeira Carta a Timóteo (2, 1-8), Paulo aconselha «a fazer orações pelos governantes: por todos, também por quantos não governam». Em seguida, no Evangelho de Lucas (7, 1-10) «vimos um governante que reza: este centurião é um governante, e tinha um problema com um servo que estava doente». Mas «há uma frase, ali, que chama a atenção: “Ama o nosso povo”». Portanto, afirmou Francisco, «há o governante que ama um povo» mesmo sendo «estrangeiro». E «amava o seu servo: preocupava-se porque amava e pelo facto de se preocupar foi procurar a solução para resolver este problema da doença. E foi ter com Jesus, rezou».

 

«Este homem – fez notar o Pontífice – sentiu a necessidade da oração: mas porquê? Certamente porque amava». Mas também «porque tinha a consciência que não era o dono de tudo, que não era a última instância». Lucas cita as palavras do centurião romano: «Com efeito, também eu estou na condição de subalterno, e tenho subalternos que dependem de mim». São palavras que, explicou o Papa, exprimem «a consciência do governante que sabe que acima dele há outro que comanda. E isto leva-o a rezar».

 

«O governante tem esta consciência, reza» reafirmou o Papa. Aliás, «se não rezasse, fechar-se-ia na própria autorreferencialidade ou naquela do seu partido, naquele círculo do qual não pode sair: é um homem fechado em si mesmo». Mas «quando vê os verdadeiros problemas, e tem esta consciência de subalternidade, o governante reza» explicou. Porque está ciente de «que existe outra pessoa que tem mais poder do que ele».

 

Certamente, acrescentou, surgiria espontâneo questionar-nos «quem tem mais poder do que um governante?». E a resposta, relançou Francisco, é «o povo, que lhe deu o poder, e Deus, do qual vem o poder através do povo».

 

«É tão importante – insistiu o Pontífice – a oração do governante, tão importante porque é a oração pelo bem comum do povo que lhe foi confiado». E precisamente a este propósito, confidenciou «Lembro-me de que certa vez, há tempos, um governante me disse o seguinte: “eu todos os dias dedico duas horas de silêncio diante de Deus”. Eu pensei: “Mas este governante está atarefado, tem muitas coisas para fazer...”». Porém, é deveras importante, explicou ainda Francisco, «pedir a graça de poder governar bem». E assim, «quando Deus pergunta a Salomão: “O que queres: ouro, prata, riquezas, poder, o quê?, qual foi a resposta de Salomão? “Dá-me a sabedoria para que eu possa governar».

 

Precisamente «por esta razão – afirmou o Papa – os governantes devem pedir esta sabedoria: “Senhor, dá-me a sabedoria; Senhor, não me prives da consciência de subalternidade em relação a ti e ao teu povo, que eu possa encontrar ali a minha força e não no pequeno grupo ou em mim mesmo”».

 

Por conseguinte, reiterou o Pontífice, «é tão importante que os governantes rezem: é tão importante». Contudo, prosseguiu, talvez «alguém me possa dizer: “Padre, é verdade o que o senhor diz, mas eu não sou crente, sou agnóstico, sou ateu”». A resposta do Papa foi: «Está bem, mas confronta-te: se não podes rezar, confronta-te com a tua consciência; confronta-te com os sábios; chama os sábios do teu povo e confronta-te com eles». Portanto, «se não puderes rezar, faz pelo menos isto, mas não permaneças sozinho com o pequeno grupo do teu partido. Não, isto é autorreferencial: sai, procura o conselho fora, na oração ou confrontando-te com quantos podem aconselhar-te». E «esta é a oração do governante».

 

Na primeira leitura, recordou Francisco, «Paulo fala a nós, aconselhando-nos a rezar pelos governantes: “Que se façam – aconselhou – perguntas, súplicas, orações e agradecimentos por todos os homens, pelo rei – por todos os reis – e por todos os que estão no poder, pelos governantes, para que possam levar uma vida calma e tranquila, digna, dedicada a Deus». Por conseguinte, recomendou Paulo, «o povo deve rezar pelos governantes e nós não temos uma consciência forte disto: quando um governante faz algo do qual não gostamos, falamos mal dele; se faz algo que apreciamos: “ah, que bom!”. Mas deixamo-lo sozinho, deixamo-lo com o seu partido, que se arranje com o Parlamento, mas sozinho».

 

E talvez há quem se safa dizendo: «Votei nele» ou «Não votei nele, faça a sua parte». Ao contrário, insistiu Francisco, «não podemos deixar os governantes sozinhos: devemos acompanhá-los com a oração». Os cristãos «devem rezar pelos governantes». E também neste caso, frisou o Papa, alguém poderia objetar: «Padre, como posso rezar por ele que faz muitas coisas más?». Precisamente neste momento «tem ainda mais necessidade: reza, faz penitência pelo governante!».

 

«A oração de intercessão – é tão bonito o que Paulo afirma – é por todos os reis, por todos aqueles que estão no poder», continuou o Pontífice. E isto «porque podemos levar uma vida calma e tranquila». Com efeito, «quando o governante é livre e pode governar em paz, todo o povo beneficia disto».

 

«Devemos crescer nesta consciência de rezar pelos governantes» reafirmou o Papa. Mais ainda: «Peço-vos um favor: cada um de vós dedique cinco minutos, não mais. Se for governante, que se pergunte: «Será que eu rezo por quem me deu o poder mediante o povo?». Se não for governante, “rezo pelos governantes? Sim, por este e por aquele sim, porque gosto deles; por aqueles, não”». Mas são precisamente estes que «mais precisam». Portanto, é oportuno questionar-se: «Rezo por todos os governantes? E se achardes, quando fizerdes o exame de consciência antes de vos confessar, que não rezastes pelos governantes, confessai-o. Porque o facto de não rezar pelos governantes é um pecado».

 

Na conclusão, sugeriu para pedir «ao Senhor nesta missa a graça de nos ensinar a rezar pelos nossos governantes: por todos os que estão no poder, como nos ensina Paulo». E «também a graça a fim de que os governantes rezem».

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