Missa em Santa Marta: «Pedir a Jesus a graça de o seguir de perto»

Vaticano 4 outubro 2017  •  Tempo de Leitura: 7

«Pedir a Jesus a graça de o seguir de perto», para não o deixar sozinho, superando assim as tentações de olharmos para nós mesmos e «dividir o bolo» dos interesses pessoais: foi o conselho espiritual sugerido por Francisco na missa celebrada na terça-feira, 3 de outubro, em Santa Marta.

 

«Este excerto do Evangelho – observou imediatamente o Pontífice, referindo-se ao trecho litúrgico de Lucas (9, 51-56) – narra-nos o momento no qual se aproxima a paixão do Senhor: "Aproximando-se o tempo em que Jesus devia ser arrebatado deste mundo"». E assim, explicou, «Jesus vai em frente, aproxima-se o momento da cruz, o momento da paixão, e diante disto Jesus faz duas coisas».

 

Antes de mais, o Senhor «tomou a decisão firme de se pôr a caminho – “aceito a vontade do Pai” – e vai em frente». Depois, «anuncia isto aos seus discípulos: Jesus está decidido a fazer a vontade do Pai até ao fim». E ao Pai diz claramente: «É a tua vontade, estou aqui para obedecer; tu não queres sacrifícios mas obediência e eu obedeço e vou em frente».

 

De resto, afirmou o Papa, Jesus «tomou a liberdade uma só vez de pedir ao Pai que afastasse aquela cruz»: quando no horto das oliveiras pediu ao Pai: «”Se for possível afasta de mim este cálice, mas seja feita não a minha vontade mas a tua”». Jesus é «obediente ao que o Pai quer: decidido e obediente e nada mais, e continuou assim até ao fim».

 

«O Senhor entra na paciência» prosseguiu o Pontífice porque «é um exemplo de caminho não só morrer sofrendo na cruz mas caminhar na paciência». Deste modo Jesus «diante desta decisão firme que tomou, comunica aos seus discípulos que se aproxima o tempo». Por sua vez, «os discípulos – muitos trechos dos Evangelhos narram o seu comportamento diante deste caminho rumo a Jerusalém – algumas vezes não compreendem o que significa ou não querem entender, porque tinham medo, estavam amedrontados». A ponto que, observou o Papa, «quando Jesus lhes disse para irem ter com Marta e Maria porque Lázaro tinha morrido, eles procuraram convencê-lo a não ir à Judeia porque era perigoso para a vida: tinham medo, estavam amedrontados».

 

Por esta razão os discípulos «não perguntavam, não compreendiam», talvez dizendo entre eles que era «melhor não fazer perguntas sobre isto: “deixemos que o tempo vá adiante, talvez mude; não, sobre este argumento não se fala”». Resumindo, é o comportamento de «esconder a verdade embaixo da mesa, lá, que não se veja». E mais: «havia quem, noutros momentos, falava sobre assuntos seus, totalmente diferentes do que Jesus dizia».

 

De facto quando o Senhor exortava: «vamos a Jerusalém, o filho do homem será crucificado», eles não entendiam sobre o que falava. E «envergonhavam-se porque tinham comentado sobre quem entre eles era o maior: “Não, a ti cabe isto quando vier o reino; a mim à direita, tu à esquerda”. E dividiam o bolo, um pedaço para cada um». Enquanto Jesus permanecia «sozinho, sozinho». Ao contrário «outras vezes, como neste caso, procuravam fazer algo: “Senhor há alguém que expulsa os demónios, mas não é um de nós, o que fazemos?”». Ou faziam «como os dois filhos de Zebedeu que queriam estar à direita e à esquerda de Jesus no momento da chegada do reino». Lucas, no seu evangelho, narra que os samaritanos não quiseram receber Jesus numa aldeia. E a reação de Tiago e João é vigorosa: «Façamos com que desça o fogo do céu e os consuma?». Enfim, explicou o Papa «procuravam fazer coisas alienantes» mas, prossegue o evangelista, «Jesus repreendeu-os».

 

Substancialmente, afirmou o Pontífice, os discípulos «procuravam um álibi para não pensar no que os esperava». Mas «Jesus» estava «sozinho, sem companhia nesta decisão, porque ninguém entendia o mistério de Jesus, a solidão de Jesus no caminho para Jerusalém: sozinho!». Tudo «isto até ao fim»: é suficiente pensar, disse o Papa, «no abandono dos discípulos, na traição de Pedro». Portanto, Jesus está «sozinho: o Evangelho diz-nos que lhe aparece um anjo do céu para o confortar no horto das oliveiras. A única companhia. Sozinho!».

 

«Mas ele, sozinho, tomou a decisão de ir em frente e fazer a vontade do Pai», observou Francisco. E os discípulos «não compreendiam: faziam outras coisas, discutiam entre eles ou procuravam alternativas para não pensar no assunto». Esta «solidão de Jesus às vezes manifesta-se: recordemos aquela vez que se deu conta que não o entendiam: “Ó geração incrédula e perversa, até quando devo estar entre vós e suportar-vos?”». Portanto, o Senhor «sentia esta solidão».

 

Precisamente nesta perspetiva, o Papa sugeriu «que hoje todos nós usemos um pouco de tempo para pensar: Jesus amou-nos tanto e não foi compreendido pelos seus». Até «os parentes, diz o Evangelho, quando foram ter com ele disseram: “Enlouqueceu, enlouqueceu”. Não era compreendido». E assim, insistiu Francisco, é importante «pensar em Jesus sozinho, a caminho da cruz, decidido, no meio da incompreensão dos seus: pensar nisto e ver Jesus caminhando decididamente rumo à cruz e agradecer-lhe». Dizer: «Obrigado Senhor porque foste obediente, corajoso: amaste tanto, amaste-me tanto».

 

Deste modo podemos «estabelecer hoje um colóquio com ele: quantas vezes procuro fazer outras coisas e não olho para ti, que fizeste tudo por mim? Tu que entraste em paciência – o homem paciente, Deus paciente – e que com tanta paciência toleras os meus pecados, as minhas falhas?». Então, disse Francisco, podemos «falar com Jesus assim – ele decidiu sempre continuar e enfrentar – e agradecer-lhe».

 

Portanto, concluiu o Pontífice, «usemos hoje um pouco de tempo, poucos minutos – cinco, dez, quinze – diante do crucifixo talvez, ou vejamos com a imaginação Jesus a caminhar decididamente rumo a Jerusalém e peçamos a graça de ter a coragem de o seguir de perto».

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