Missa em Santa Marta: almas caiadas

Vaticano 21 outubro 2017  •  Tempo de Leitura: 6

Os hipócritas vivem de «aparência». E como «bolhas de sabão» escondem a verdade a Deus, aos outros e a si mesmos, ostentando uma «cara de santinho» para «manipular a santidade». O Papa Francisco admoestou contra este risco na celebração eucarística de sexta-feira 20 de outubro em Santa Marta, convidando a desmascarar «a justificação da aparência» – dizer uma coisa e fazer outra – e pedindo que se dê sempre espaço à «coerência de vida» e à «verdade».

 

«Na primeira leitura – observou imediatamente o Papa referindo-se ao trecho da carta aos Romanos (4, 1-8) – o apóstolo Paulo continua a ensinar-nos qual é o verdadeiro perdão de Deus, que é gratuito, vem da sua graça, da sua vontade e não do que nós pensamos ter pelas nossas obras». De resto, explicou Francisco, «as nossas obras são a resposta ao amor gratuito de Deus que nos justificou e que nos perdoa sempre». E «a nossa santidade consiste precisamente em receber sempre este dom». Por esta razão o trecho da carta de Paulo «termina citando o salmo que rezamos: “Felizes aqueles cujos delitos foram perdoados e cujos pecados foram cobertos! Feliz o homem a quem o Senhor não atribuir nenhum pecado!”».

 

«Foi o Senhor – afirmou o Pontífice – que nos perdoou o pecado original e que nos perdoa todas as vezes que a Ele nos dirigimos». Com efeito, acrescentou, «nós não nos podemos perdoar os nossos pecados com as nossas obras: só ele perdoa». Por nosso lado, explicou, «podemos responder com as nossas obras a este perdão».

 

Mas «Jesus, no Evangelho, faz-nos compreender outra maneira, outro modo de procurar a justificação: não pela gratuitidade do Senhor, não pelas nossas obras». E assim «mostra aqueles que se creem justos pela aparência: mostram-se justos e apraz-lhe fazer isso e sabem fazer precisamente “a cara de santinho”, como se fossem santos». Mas «são hipócritas: “Acautelai-vos primeiramente do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia”» lê-se no trecho evangélico de Lucas (12, 1-7). «Dentro, ele mesmo disse que está todo sujo, mas fora – explicou Francisco – mostram-se justos, bons: gostam de passear e mostrar-se muito elegantes, ostentar quando rezam e quando jejuam, quando dão esmola». Mas «tudo isto é aparecer, dentro do coração não há nada, não há substância naquela vida, é uma vida hipócrita: ou seja, como diz a palavra, por baixo está a verdade e a verdade é nula».

 

Eis por que «é sábio o conselho de Jesus diante destas pessoas: fazei o que dizem porque dizem a verdade, mas não o que fazem porque fazem o contrário». Com efeito, insistiu Francisco, «estes pintam a alma, vivem pintados: a santidade para eles é uma pintura». Ao contrário «Jesus pede que sejamos sempre verdadeiros, mas verdadeiros dentro, no coração: e se algo sobressai, que sobressaia esta verdade, o que há no coração».

 

Precisamente por esta razão Jesus dá «aquele conselho: quando tu rezas, vai fazê-lo escondido; quando jejuas, ali, pinta-te um pouco, para que ninguém veja o pouco valor do jejum; e quando dás esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, fá-lo escondido». Em síntese, Jesus aconselha exatamente «o contrário daquilo que estas pessoas fazem: mostrar-se». Nelas há «a justificação da aparência: são bolhas de sabão que hoje existem e amanhã já não». Ao contrário «Jesus pede-nos a coerência de vida, coerência entre o que fazemos e o que vivemos».

 

«A falsidade faz tão mal, a hipocrisia faz tão mal; tornou-se um modo de viver» disse o Pontífice. «No salmo – recordou – pedimos a graça da verdade diante do Senhor» e «o que pedimos é bom: Senhor, dei-te a conhecer o meu pecado, não o escondi, não encobri a minha culpa, não caiei a minha alma». E o salmo 31 recita: «Disse: “Confessarei ao Senhor as minhas iniquidades” e tu tiraste-me a minha culpa e o meu pecado».

 

«Dizer sempre a verdade a Deus, sempre» exortou o Papa. «E esta verdade diante de Deus é a que abre espaço para que o Senhor nos perdoe; ao contrário a hipocrisia» é o exato contrário. A ponto que «no início estas pessoas sabem» que são «hipócritas, que dizem uma coisa e que não a fazem: mas com o hábito também elas pensam que são justas».

 

Por exemplo, sugeriu Francisco, «pensemos na oração daquele doutor da lei diante do altar: “Agradeço-te, Senhor, muito obrigado!”». Mas não acrescenta «por me teres perdoado» mas diz: «porque não sou como os outros, eu faço tudo o que deve ser feito». E, prosseguiu o Papa, «depois vira a cabeça: “nem sequer sou como aquele que fez certas coisas...”». As pessoas hipócritas «acusam sempre os outros mas não aprenderam a sabedoria de se acusarem a si mesmas» concluiu o Pontífice, convidando a pedir ao Senhor, com as palavras do salmo 31, «a graça da verdade e de poder dizer com verdade”: “Dei-te a conhecer o meu pecado, sou eu que me acuso, não encobri a minha culpa”».

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