Missa em Santa Marta: Exame de consciência

Vaticano 27 outubro 2017  •  Tempo de Leitura: 7

Alguns pensam que o hábito de «fazer um exame de consciência» todos os dias é uma prática superada, não para «cristãos atualizados». Mas «a luta que Jesus travou contra o mal não é algo antigo, é muito moderno» porque se encontra cada dia no «nosso coração». E o exame de consciência acompanha o cristão nesta luta, ajudando-o «a dar espaço ao Espírito Santo». Eis o conselho do Papa na homilia da missa celebrada em Santa Marta a 26 de outubro. Comentando as leituras do dia, ele abordou o tema da conversão: um «caminho» que exige luta e esforço contínuos.

 

Antes de tudo, Francisco examinou o Evangelho de Lucas (12, 49-53), onde «Jesus nos diz que veio lançar fogo sobre a terra». Mas, esclareceu, trata-se de um fogo — que Ele «lança com a sua palavra, morte e ressurreição, com o Espírito Santo que nos enviou» — o qual provoca «não as guerras que nós vemos nos campos de luta e de batalha, mas as guerras culturais, familiares, sociais, e também a guerra no coração, a luta interior». Jesus «convida-nos a mudar de vida, de caminho, chama-nos à conversão». Eis o fogo de que fala: «Um fogo que não te deixa tranquilo, não pode, impele-te a mudar».

 

Também Paulo, escrevendo aos Romanos (6, 19-23) e desculpando-se «porque usa uma linguagem humana», explica «que devem mudar tudo, mudar o modo de pensar: “Antes pensavas como um pagão, como um mundano, agora deves pensar como um cristão”». O coração, «que era mundano, pagão torna-se agora cristão com a força de Cristo: mudar, isto é conversão». Uma mudança que envolve «o modo de agir: as tuas obras devem mudar». Para se explicar melhor, o apóstolo escreve: «Assim como pusestes os vossos membros ao serviço do pecado, agora colocai-os ao serviço do Senhor».

 

Portanto, «a conversão envolve tudo, corpo e alma». E é uma mudança que não se faz «com ardil»: é «o Espírito Santo» que o faz. Sem dúvida, «devo contribuir para que o Espírito Santo possa agir», e é desta luta que Jesus fala. Por isso, o Papa frisou que «não existem cristãos tranquilos, que não lutam: aqueles não são cristãos, são “tíbios”, e no livro do Apocalipse Jesus disse o que fará com os tíbios. A vida cristã é uma luta». É um conceito que se encontra também no Antigo Testamento, onde «os sábios diziam: “A vida é uma milícia na terra”, a vida cristã é uma luta que não te dá tranquilidade, mas paz». A propósito, Francisco explicou que «devemos aprender a distinguir»: a tranquilidade «podes encontrá-la até com um comprimido», como aquele que se toma para vencer a insónia. Ao contrário, «não há comprimidos para a paz. Só o Espírito Santo pode dá-lo e esta luta, este fogo dá-te a paz interior, a paz da alma que infunde fortaleza nos cristãos».

 

Desta luta interior deram testemunho «muitos mártires na história da Igreja», tantos homens e mulheres que chegaram «a dar a vida», muitos «cristãos silenciosos, tantos homens, pais de família, tantas mulheres, mães de família, que levam em frente a vida em silêncio, educando os filhos e trabalhando, enquanto procuram cumprir a vontade de Deus».

 

Mas «como ajudamos o Espírito Santo»? Criando «espaço no nosso coração». Eis o conselho prático de Francisco: a utilidade do «exame de consciência». No final de cada dia é preciso interrogar-se: «O que aconteceu no meu coração hoje? O que senti? O que fiz? O que pensei? Os meus sentimentos relativos ao próximo, à família, aos amigos, aos inimigos: o sentimento que tive é cristão ou não? E assim ir em frente». E ainda: «Do que falei, como se comportou a minha língua hoje? Falou bem ou mal dos outros?». Trata-se de uma prática que «nos ajuda a criar espaço, a lutar contra as doenças do Espírito, aquelas que o inimigo semeia e que são as doenças da mundanidade».

 

Alguém poderia objetar: «Mas padre, estas coisas são velhas, agora somos modernos, somos cristãos atualizados». A resposta é imediata: «Mas pensa: a luta que Jesus travou contra o diabo, contra o mal não é antiga, é muito moderna, de hoje, de todos os dias». É uma guerra que se encontra «no nosso coração, aquele fogo que Jesus veio trazer-nos está no nosso coração». Portanto, «deixo entrar, deixo que Ele me sensibilize e me mude».

 

Disto entende-se que a conversão não é uma decisão tomada una tantum — «antes eu era pagão, agora sou cristão» — mas é «questionar-se todos os dias: como passei da mundanidade, do pecado para a graça, deixei espaço ao Espírito Santo para que Ele pudesse agir?». Conscientes de que «as dificuldades da nossa vida não se resolvem diluindo a verdade». Por isso, o Papa perguntou: diante da verdade de Jesus, que «trouxe fogo e luta, como me comporto»?

 

Nesta altura, Francisco deu outro conselho prático, inspirando-se na oração da coleta na qual se pede «a graça de um coração generoso e fiel». E explicou: «Para a conversão são necessárias amas estas coisas: generosidade, que deriva sempre do amor, e fidelidade à palavra de Deus». Depois, a oração continua dizendo: «Assim podemos servir-te com lealdade». Ou seja, é preciso «ser leal diante de Deus, transparente, dizer a verdade. E o Coração do Senhor — concluiu o Pontífice — é tão bom e grande que, perante uma pessoa leal, eu diria que se “amolece”, ou seja, ama-nos mais, aproxima-se mais e faz o milagre da conversão».

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