Cobrar o imposto à vida
Quantas são as vezes em que seguimos cansados, tão cansados? Está escrito: “Abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porque nele descansou de toda a obra que realizara na criação” (Gn 2, 3). Precisamos de saber parar. Precisamos de saber descansar. Saramago escreveu: “É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós.”. Esta é a necessidade de saída e de parar. Precisamos de nos afastar da realidade para podermos vê-la. Caso contrário começamos a perder-nos pouco a pouco. Precisamos de sair, de tomar ar de descobrir a vida que há para lá da nossa realidade de todos os dias. Redescubramos a beleza da natureza. Redescubramos a simplicidade de simplesmente sentir a relva no nosso corpo, o vento sopra, uma borboleta passa, os passarinhos cantam e as árvores dançam ao seu ritmo e nós simplesmente estamos sentados a ler. Há uma beleza enorme em simplesmente estar, em simplesmente ser que não podemos perder ou seremos nós que estamos a perder-nos da vida.
Muitos são os nossos problemas, muitas são as nossas revoltas e tantas vezes nos é urgente a vida e o amor como Eugénio de andrade nos diz. Mas também é urgente parar e viver a vida devagar, descansando. É urgente parar para reaprendermos a olhar a vida como o dom que é sem a urgência de todos os dias. É urgente olhar para as pessoas devagar sem a pressa de seguir para fazer o almoço e ir para o trabalho. É urgente parar para voltarmo-nos a olharmo-nos a nós como um dom para nós próprios.
Não tenhamos pressa de seguir. Percamos a pressa de fazer. Percamos a pressa. Quando sentirmos que temos de fazer, que se não chegarmos mais ninguém chega e que senão fizermos mais ninguém faz. Paremos. É nestes momentos que Deus nos chama a parar e a contemplá-Lo. Contemplemos a sua criação. Recentemente numa das muitas viagens perguntaram-me: “está a cobrar o imposto da vida?” Sabe menina é que eu fiquei doente e pensei que ia morrer e então fiz-me a mesma pergunta. Estamos a cobrar o imposto à vida? Estamos a aproveitá-la? Estamos a vivê-la? Cobremos o imposto à vida e lembremo-nos que somos chamados à felicidade de ser, simplesmente ser.