Amar é a eterna novidade
A vida dá tantas voltas que não sabemos bem onde viemos nem onde vamos parar. A vida é tantas vezes cruel e injusta. Caminhamos, fazemos promessas de amor eterno, conjugamos eternidades. Desiludimo-nos. Sentimo-nos partidos em pedaços. Invariavelmente acordamos a chorar. Não sabemos para onde ir, que fazer. O que se faz quando te sentes perder a pessoa que deu mais sentido e que mais te ajudou na vida? Que fazes quando sentes que alguém te morre sem morrer? Que alguém te parte, te abandona?
Nada. Uma vez ensinaram-me que quando temos dúvidas sobre o que devemos fazer o melhor é parar. Deixar fazer silêncio no nosso coração. Deixar o mundo seguir e acontecer. E só depois quando tudo for mais claro só aí devemos levantarmo-nos e seguir caminhando. Devemos ousar parar precisamente quando tudo o que nos apetece é chorar rios de tristeza e desilusão. O desafio das histórias de amor é que são conjugadas num plural, escritas a duas mãos. Sabemo-lo. Mas temos sempre vontade de que sejam as nossas letras, as nossas frases e os nossos caminhos que prevaleçam. Queremos sempre ser nós a escrever. Queremos controlar. Queremos o comando da nossa vida tal como queremos o comando da televisão.
Abandonamos a crença nessa eternidade. Acreditamos noutras eternidades. Olhamos para o caminho e encontramos vida. Não onde esperávamos. Noutros lugares. Noutras pessoas. Percebemos que a vida é para viver deixando-nos levar. Percebemos que temos de abandonar o controlo, dar o comando. De que nos serve ter o comando se estamos sozinhos? De que nos serve escrever uma história se estamos sozinhos nela? Partilhar. Amar sem expectativas. Amar sem interrogações. Amar sem depois. Amar agora. Amar como Deus nos ama. Viver escrevendo a nossa história e sabendo reconhecer que cada pessoa escreve a sua. Que tudo o que podemos é escrever a nossa. Saber reconhecer que amar uma pessoa é sabê-la eterna desconhecida. Há no amor, tal como em cada pessoa, uma eterna novidade. Podemos conhecer a sua história mas não a vivemos. Podemos conhecer a sua luta mas não lutamos diariamente com ele. Tudo o que podemos fazer é ser, simplesmente ser e permitir que o outro seja tudo o que o fizer feliz e completo. Tudo o que podemos ser e fazer é amar na mesma medida em que Deus nos ama: infinitamente. Amar é infinitamente é estar sem questionar, sem recomendar. É amar, simplesmente amar. Amar como é e não como queremos ou esperamos que seja. Porque no final no dia a única coisa que vai importar é o quanto amamos.