A felicidade de ser
Aprendemos não sei onde ou com quem que a tristeza é de fugir, de escapar. Aprendemos que devemos fugir do sofrimento, da doença e de tudo o que é mau. Não sei onde aprendemos mas quando aparecem na nossa vida o primeiro instinto é fugir-lhe, deixar que se escape, que se vá, que desapareça. Esqueceram-se de nos ensinar que a tristeza e o sofrimento não se escapam, não se vão, não emigram nem foge por milagre para a casa do lado. Pelo contrário. Devemos vivê-los. Devemos dar-lhe espaço. Devemos senti-los. Quando estamos tristes e em sofrimento devemos estar tristes e em sofrimento. Deixemos de fingir. Deixemos de querer uma vida perfeita como nos mostram nos livros, filmes de sábado à tarde, instagramse facebooks. Nas redes sociais e em tantos outros sítios partilhamos momentos de alegria e felicidade tantas vezes o fazemos que parece que todos estamos sempre felizes e bem o tempo todo. Não é verdade.
Maria Rueff disse “Repara que as pessoas obrigam-te a ser uma máquina perfeita e aquilo é lindíssimo, aquilo é importantíssimo. Mas deêm-nos o direito de chorar, de sofrer, de vos mostrar os lutos e mais, de mostrar que as vidas têm falhas, têm erros, têm Outonos!”. Deixemos de fugir. Deixemos de esconder as lágrimas e de silenciar os gritos de angústia. Gritemos. Choremos. A melhor forma de curar a dor, o sofrimento e a tristeza é aceitá-los com a mesma naturalidade que aceitamos a alegria, o sorriso e a felicidade. Nós achamos que sim mas nunca ninguém nos disse que a vida ia ser perfeita, feita de alegria e felicidade. Tudo na vida é um ciclo. Lembremo-nos que não há mal que nunca acabe. Por isso por vezes caminho na escuridão e no túnel escuro confiando que a luz não tardará. Viver é aceitar-me e render-me ao que sinto sem julgamentos. É permitir-me ser, simplesmente ser sem cobranças. É sentir as dores de crescimento e deixar sentir a dor. Aceitar a dor.
Precisamos de nos permitir evoluir, precisamos de nos deixar moldar e por vezes até cortar para depois crescer mais e melhor numa próxima primavera. Precisamos de saber ser inverno e outono e não só verão e primavera.