A Virgem de Nazaré e o escândalo da Incarnação!
A novidade da revelação cristã consiste no seguinte paradoxo: Jesus Cristo é verdadeiramente Deus e é verdadeiramente Homem!
Deus que é o totalmente outro, em Jesus, faz-se próximo ao homem e entra na nossa carne mortal para elevá-la até ao céu. Com a Incarnação, Deus transforma a nossa humanidade num "caminho" através do qual Ele vem ao encontro do homem e o homem pode ir ao encontro d'Ele.
A partir do momento em que Maria de Nazaré deu o seu Sim com o qual abre-se à ação fecunda do Espírito Santo que a faz mãe, de facto, a humanidade pode aceder a Deus. Todas as dimensões da existência humana entram em comunhão com Deus. Podemos dizer que até a doença, a dor, a fragilidade, a debilidade e a morte, são lugares de encontro e de relação com Deus, que em Jesus fez-se pobre, débil, marginal, último e condenado
Quando refletimos seriamente sobre o nosso Deus, não podemos não ficar escandalizados! Um Deus que nada tem a ver com os nossos deuses de vitória; de sucesso; de "primeiros lugares"; de fama; de riqueza…
Ouso dizer que o Deus dos cristãos é duplamente escandaloso. Não só assumiu a condição humana, como o fez através de um ser humano: a Virgem de Nazaré. Diante de um Deus que escolhe entrar na nossa carne mortal, assumindo todas as contradições, os limites, as fragilidades, a pobreza e a morte, é difícil ficar indiferente…
Maria ajuda-nos a perceber este mistério. Esta rapariga simples de Nazaré é rica na fé. Uma mulher pobre, mas rica de Deus. Não fala muito de si mas ensina-nos a atitude fundamental: abraçar Jesus.
O Evangelho não é uma filosofia de vida, mas a carne de Cristo que devemos tocar, guardar, sofrer e alegrar. Abraçar Jesus para aprender a abraçar a vida no realismo da incarnação, não em ilusões ou em sonhos. Deus ainda "acontece" na carne da vida, no corpo dos irmãos, nos gestos concretos nos doentes de Covid-19, nos idosos fechados nas suas casas ou nos lares, em todos os que sofrem; na verdade e na bondade das palavras que pronunciamos àqueles que andam desesperados e perdidos; nas nossas mãos que acariciam e limpam as lágrimas de quem sofre no corpo ou de quem perdeu os seus entes queridos…
Aprendamos com Maria a ternura e o amor à vida. Aprendamos que o lugar privilegiado onde a salvação se realiza é no realismo da vida. Aprendamos a amar e a habitar a terra nas coisas de cada dia, dilatando as relações, salvando a fé e fazendo da vida um Magnificat pela misericórdia de Deus que nos envolve. Somente assim nos tornaremos como ela capazes de gerar hoje o Filho de Deus, apontando-o como o Salvador à humanidade tão perdida e aquele que pode dar plenitude à nossa existência.
A humanidade de Cristo é pois, o ponto de encontro entre o céu e a terra. Deus, em Jesus, através de Maria, assume a nossa carne mortal para a tornar participante da sua natureza divina.