Amor ao próximo

Crónicas 26 outubro 2020  •  Tempo de Leitura: 3

Quem é o meu próximo? Muitas vezes me questionei sobre a importância de saber quem é e de que forma o posso amar. Jesus diz-nos que devemos Amar a Deus e ao próximo, como a nós mesmos.  Nisso que se resume o mandamento da Lei. Parece simples, até porque as palavras são simples e concisas. Apesar disso, sempre achei uma tarefa difícil de realizar. Mas no momento em que “embarquei” para a minha segunda missão eu tinha a certeza que ia compreender e realizar este mandamento.

 

Em agosto de 2018 parti, novamente, em missão. Desta vez para Moçambique, por três meses. O primeiro mês, acompanhada por um grupo de voluntários e os dois meses seguintes, ficaria sozinha. Calhou me em sorte a comunidade de Massangulo, no norte de Moçambique bem perto da fronteira com o Malawi.

 

A comunidade de Massangulo, cedo se tornou a minha comunidade, a minha família e a minha casa. Ali, onde se experiencia a pobreza, a falta de recursos e muitas vezes a falta de alimento, vive-se o mandamento maior, o Amor. O amor verdadeiro, sem farsas, sem pedir nada em troca. Cada abraço, cada beijo e cada carinho que recebi, senti que eram verdadeiros.

 

Durante a estadia fomos visitando algumas pequenas comunidades, pertencentes à paróquia, mas muitas delas deslocadas e de difícil acesso. Mas em cada uma delas havia um sentimento de partilha e de amor infindáveis. Na primeira comunidade que visitamos, percebi que aquela gente, preparou-nos um banquete. Provavelmente nunca, em suas casas, teriam oportunidade de experimentar a refeição que nos prepararam, mas uniram todos os esforços e todos os “meticais” necessários para que nada nos faltasse. Aí recebi o primeiro “toque” do significado de amor ao próximo. A refeição não era nada diferente daquilo que comemos nas nossas casas, arroz, feijão e carapau. Mas para eles era do melhor que podiam apresentar. Era dar sem pedir nada em troca, não para se exibirem ou vangloriarem-se, mas para nos alegrar e agradar. Enquanto nós saboreávamos o banquete, eles comiam a “chima” (é uma mistura de farinha de milho e água). Os seus olhos brilhavam de contentamento, por nos terem servido o melhor.

 

Apesar de eles falarem o dialeto “Chichewa”, não foi impedimento para nos comunicar. Bastou um sorriso ou um abraço, para logo nos entendermos. Realmente a melhor linguagem é o amor. E o Amor é universal e é a melhor via de comunicação.

 

Ali, virada para a montanha, dividida entre Moçambique e o Malawi, eu senti que aqueles eram o meu próximo. Como podia eu não os amar? Ali naquele lugar silencioso e, quase, deserto eu senti a brisa de Deus. E Deus sussurrou “agora entendes?”. Amar o próximo não é presentear com coisas de elevado valor material, mas é dar-nos. A partir daquele momento eu compreendi que, realmente, somos melhores quando damos e quando nos damos.

 

Mais uma vez, Deus fez-se presente e de uma forma bonita e suave, sem grandes alaridos, sem grandes pompas e circunstâncias. Sempre com o sentido de me ensinar que é nas pequenas coisas, que vou encontrar grandes valores. Amar o próximo é a maior prova de amor!

Nasci em 1982, a 4ª filha de 6 irmãos. Natural de Sobrado, Valongo. Sou escriturária de profissão.

Somos uma família católica e, os meus pais, sempre nos guiaram no caminho de seguir Jesus, frequentando a catequese e a Eucaristia.

Desde cedo quis ser catequista e quando terminei o percurso catequético, fui catequista. Hoje ainda sou, para além de participar noutros grupos paroquiais.

Sempre tive vontade de partir em missão, muitas vezes o medo ou a insegurança, fizeram me recuar. Não sou pessoa de ter coragem, de dar o primeiro passo. Mas, sempre que via reportagens ou artigos sobre pessoas que partiam em missão, o meu coração “contorcia-se”. Eu sabia que tinha que ir. Em 2017 surgiu a oportunidade de embarcar numa missão para o Uganda e depois em 2018 para Moçambique.

Nestas experiências percebi e aprendi, que sou mais feliz quando faço os outros felizes. Que com pouco posso fazer muito. Não existem barreiras que nos dividam com ninguém.

Ali aprendi quem é o meu próximo! Se o podia ter descoberto aqui na minha paróquia? Claro que sim. Mas estas missões servem para sairmos de nós mesmos e sentirmos a necessidade de ir ao encontro do outro. Num contexto social diferente os nossos olhos “transformam-se” e aprendemos a ver doutra forma.

Posso dizer que fui muito feliz!

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