Estar preparado e vigilante

Crónicas 9 novembro 2020  •  Tempo de Leitura: 4

Há alturas da vida em que somos confrontados com tomadas de decisões importantes. Seja qual o curso que queremos tirar, seja uma decisão em relação a uma oferta de emprego, na decisão de comprar um carro ou até uma casa, tudo isto são provas à nossa capacidade de decisão e de conhecimento de causa. É uma forma de nos pormos à prova e termos a perceção daquilo que é melhor para nós.

 

Quando são os outros a decidir por nós, as coisas são mais fáceis. Em criança os pais é que decidem a roupa que vamos usar, o corte de cabelo, o calçado, a mochila e até aquilo que comemos. À medida que vamos crescendo a nossa personalidade vai-se formando e começamos a ter capacidade de decidirmos sozinhos até as pequenas coisas. Por esse motivo temos de estar preparados. Porque nunca sabemos o dia em que vamos ser confrontados.

 

Durante anos eu “sonhei” com o dia em que iria em missão. Digo “sonhei”, porque sempre achei que era algo muito difícil de realizar, por várias razões. Mas na minha cabeça tinha tudo idealizado, estava mais do que preparada para o fazer. Os anos foram passando, mas nunca perdi a vontade e o desejo de o fazer. Mantive me vigilante e preparada. Até que o convite surgiu e eu na hora disse “sim”. Nem perguntei para onde, com quem, como e nem qual o projeto. Eu sabia que tinha chegado a hora. Eu estava preparada. E por isso, não houve nada na missão que, apesar de ser novo, eu sentia que era novo. Tudo me parecia familiar!

 

Houve alguém que um dia me perguntou “durante a tua missão, quando é que sentiste que saíste da tua zona de conforto?”, a minha resposta foi “nunca”. Para mim ser missionário é realmente ser feliz e se somos felizes é porque nos sentimos confortáveis, em qualquer situação.

 

estar_2

 

Viver uma experiência missionária é sairmos de nós mesmos e vivermos o outro. Partilho convosco a história de um casal que conheci em Moçambique, o papá Ângelo e a mamã Elisa. Um casal de idade avançada, ele com mobilidade reduzida, passava os seus dias sentados à porta da sua “cabana”. Ela na sua idade avançada demonstrava um amor inexplicável por ele. Todos os dias ela pegava nele, praticamente ao colo, para o colocar cá fora ao sol e depois no fim do dia, fazia o mesmo para o colocar na cama. Viviam numas condições inimagináveis, se não fosse a boa vontade da missão, passavam fome. Mas nada os detinha de cantar, rezar e contar histórias antigas. Ela todos os domingos caminhava, descalça, até à igreja para participar na Eucaristia. Era difícil não nos apaixonar por eles, pela sua força, pela sua fé, pelo seu amor! Sempre que lá ia visitá-los, ficava a observar a paisagem virada pra montanha e muitas vezes disse, “é aqui que Deus fez a sua morada”. Só Deus podia me ter conduzido até àquele lugar lindíssimo, silencioso e inundado de amor. Só Ele como um bom Pai que é, me mostraria daquela forma simples, o verdadeiro significado de amor e entrega.

 

 É importante estarmos preparados e vigilantes, pois não sabemos o dia nem a hora.

tags: Ana marujo

Nasci em 1982, a 4ª filha de 6 irmãos. Natural de Sobrado, Valongo. Sou escriturária de profissão.

Somos uma família católica e, os meus pais, sempre nos guiaram no caminho de seguir Jesus, frequentando a catequese e a Eucaristia.

Desde cedo quis ser catequista e quando terminei o percurso catequético, fui catequista. Hoje ainda sou, para além de participar noutros grupos paroquiais.

Sempre tive vontade de partir em missão, muitas vezes o medo ou a insegurança, fizeram me recuar. Não sou pessoa de ter coragem, de dar o primeiro passo. Mas, sempre que via reportagens ou artigos sobre pessoas que partiam em missão, o meu coração “contorcia-se”. Eu sabia que tinha que ir. Em 2017 surgiu a oportunidade de embarcar numa missão para o Uganda e depois em 2018 para Moçambique.

Nestas experiências percebi e aprendi, que sou mais feliz quando faço os outros felizes. Que com pouco posso fazer muito. Não existem barreiras que nos dividam com ninguém.

Ali aprendi quem é o meu próximo! Se o podia ter descoberto aqui na minha paróquia? Claro que sim. Mas estas missões servem para sairmos de nós mesmos e sentirmos a necessidade de ir ao encontro do outro. Num contexto social diferente os nossos olhos “transformam-se” e aprendemos a ver doutra forma.

Posso dizer que fui muito feliz!

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail