Dú(vidas)
Dúvidas. Tantas são as dúvidas que sinto desde que comecei caminhar. Será que estou a ouvir bem a Deus? Como vou encontrar trabalho depois? Como vai ser? Para onde vou voltar? Como vou conseguir? Poderia ir preenchendo resmas de papéis com todas as minhas dúvidas, todos os medos e inseguranças. Tantas foram as vezes que chorei de saudades. Tantas foram as vezes que sofri por antecipação, tantos medos que não chegaram a cumprir-se.
Agora ao saber-me calma, serena, alegre, sorridente e confiante tantas vezes me recordo das viagens feitas a chorar e de todos os medos que agora parecem parvos e longínquos.
Quantas lágrimas escondem um sorriso? Quantas dúvidas escondem a segurança? Quanto medo esconde a fé? Dúvidas fazem parte da vida. São dúvidas, são parte da nossa vida. São sinais da nossa humanidade. Deus chama-nos a segui-Lo. E nós dizemos-lhe que sim e logo a seguir surge uma revolução em nós que parece revirar-nos do avesso. A felicidade, a alegria, a segurança e a fé são um caminho que se faz caminhando na entrega a Deus. Tudo isto é um caminho. Tudo isto é uma construção. Vamo-nos contruindo passo a passo, um degrau de cada vez.
D. Hélder da Câmara escreveu um poema que diz «Não, não pares. É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas a graça das graças é não desistir. Podendo ou não podendo. Caindo, embora, aos pedaços…Chegar até ao fim».
Neste caminho de amor e para o amor de Deus muitas são as vezes em que vamos ter vontade de parar e desistir. Paremos um pouco, descansemos as pernas, depois sigamos. Sejamos sempre misericordiosos para connosco. «Deus nunca cansa de perdoar; nós é que, por vezes, nos cansamos de pedir perdão» - ouvimos o Papa Francisco afirmar. Deus perdoa-nos. Mas e nós? Pedimo-nos desculpa? Somos misericordiosos para connosco?
Somos humanos. Aceitemos as nossas fragilidades, os nossos medos e lágrimas. Deus ama-nos. Amemo-nos também ousando perdoar-nos, ousando ser misericordiosos connosco. Só assim o poderemos ser também com os outros.Aceitemos caminhar com Ele. Se o fizermos iremos descobrir que “é dando que se recebe” (S. Francisco) e então entregando medos a Deus recebemos fé, entregando tristezas recebemos alegrias e entregando-nos experimentamos o seu amor. Entregando-nos experimentamos viver na terra esse pedaço de céu que é o amor.