Moisés, o amigo de Deus – Parte II

Crónicas 31 dezembro 2020  •  Tempo de Leitura: 3

Do primeiro encontro entre Deus e Moisés, ressoam duas expressões que irão aproximá-los definitivamente. A primeira que aparece no texto é: «Eu Estarei contigo» (Ex 3,12) e a segunda: «EU SOU» (Ex 3,14). Na verdade, são idênticas.

 

«EU SOU» em linguagem simples pode-se traduzir mais ou menos assim: «EU SOU CONTIGO e Estou aqui para ti, sempre. Jamais te abandonarei». Eis o Nome de Deus! Um Nome que se insinua como Aliança, um “Ser para”, uma promessa de vínculo e compromisso. «EU SOU» revela-O como ÚNICO porque escolheu tornar-Se VERBO conjugado com outros nomes.

 

Ele já era com-Abraão, com-Isaac e com-Jacob (Ex 3,6) e naturalmente também É-COM-Moisés. Ele mesmo faz-se Entrega e Dádiva. E ainda que Moisés proteste, suplicando que outro seja enviado (Ex 4,13), insistindo que não sabe falar (Ex 4,10), Deus não abdica do seu novo COM-panheiro. Moisés, a partir deste encontro torna-se predileto e insubstituível.

 

Mais tarde, apesar da infidelidade e idolatria do povo na travessia do deserto, Moisés convence Yahveh a não desistir da Aliança porque «O SENHOR falava com Moisés, frente a frente, COMO UM HOMEM FALA COM O SEU AMIGO» (Ex 33,11).

 

Entretanto, do cimo do Sinai, Deus ordena que Moisés guie o povo rumo à terra prometida. Mas Moisés pede-Lhe que Ele mesmo abandone o seu trono, desça da montanha e os acompanhe no caminho. Prontamente e com afeto, Yahveh responde: «Farei o que me pedes, porque alcançaste graça aos meus olhos, e conheço-te pelo nome» (Ex 33,17).

 

Em nome do seu amigo, Deus renovou a Aliança e tornou-se um Peregrino-Com-o Povo, acompanhando-o dia-a-dia, armando e desarmando a sua «tenda da Reunião» (Ex 33,7). E eis que um deserto árido e inóspito, em nome da amizade foi convertido em “terra santa”, lugar do Deus-Connosco.

 

O povo finalmente chegou à entrada da Terra Prometida, mas Moisés apenas a vislumbrou à distância, do topo do monte Nebo na terra de Moab (Dt 32,48-51). E aí Moisés morre (Dt 34,5). Chorando a morte do seu amigo, num silêncio reverente «DEUS MESMO O ENTERROU no vale que está perto de Bete-Peor em Moabe, mas ninguém sabe exatamente onde» (Dt 34,6).

 

No segredo e à distância de olhares indiscretos Deus o sepultou. Tal como José de Arimateia faria mais tarde pelo seu Mestre e Amigo, Jesus de Nazaré (Mc 15,43-47). E num tom solene, o Pentateuco – ou melhor dizendo, o coração de toda a escritura judaica – assim termina:

 

«Não houve jamais outro profeta semelhante a Moisés, a quem o Senhor tivesse conhecido face a face» (Dt 34,10).

Gustavo Cabral

Cronista

Engenheiro mecânico. Mestrado em Ciências Religiosas. Atualmente, professor de EMRC. Leigo Redentorista. Adepto de teologia e bíblia.

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