O que buscas está no silêncio e na quietude

Crónicas 18 junho 2021  •  Tempo de Leitura: 3

Hoje há conforto, mas não há descanso. Todos temos fome de plenitude, mas deixamo-nos satisfazer por futilidades. Quero o que é  profundo, mas vou-me contentando com aparências. Busco a luz, mas ando maravilhado atrás de meros reflexos…

 

Aquilo que sou depende muito mais do que abdico do que daquilo que conquisto. Aperfeiçoar-me é uma purificação. A iluminação só chega depois de termos esvaziado tudo o que apenas faz sombra. O que enche, mas não sacia.

 

Andamos todos, cada um à sua maneira, em busca de Deus. O mais belo é que quando alguém bate a uma porta de um mal qualquer está, ainda assim, à procura de Deus.

 

É preciso que nos calemos e paremos. Que quebremos a lógica dos dias cheios de compromissos e obrigações, onde tudo é importante, mas só por um momento. Tudo passa, tudo desaparece com a mesma rapidez com que chegou.

 

O espírito já não sabe parar, nem o corpo.

 

Sabemos que há algo de errado nesta forma de viver. Queremos mudar, mas não mudamos. Queremos descansar, mas não paramos. Como se não tivéssemos vontade de mudar de rumo e nos deixássemos deslizar pela suave descida da decadência.

 

Tal como as brasas entre a cinza. Não podemos deixar que as nossas dimensões mais profundas sejam sufocadas. É preciso que paremos e façamos o que importa.

 

Os nossos dias, meses e anos passam, nascem e morrem, como estações em que o comboio passa sem parar. Como se tivéssemos uma vida possível, mas que não chegamos a realizar. Com pressa de chegar a um lado qualquer que não existe, ou então a fugir, com medo daquele silêncio que nos empurra para diante de nós mesmos, onde, olhos nos olhos, não podemos mentir.

 

Era tão bom que eu me deixasse de preocupar com as coisas sem importância e dedicar-me mais ao que tenho à minha responsabilidade. Só tenho esta vida, este tempo em que passo. Onde cada dia é uma dádiva tão única que jamais se repete.

 

Se ao menos eu fosse capaz de querer saber de mim como quero saber dos outros, se eu tivesse a coragem de me transformar com a mesma convicção com que critico e dou conselhos aos outros… se ao menos eu fosse capaz de perceber que só a mim posso mudar, e que é mudando-me que começo a mudar o mundo.

 

A verdade precisa de silêncio para se fazer ouvir. O silêncio que se lhe segue é ainda verdade, e é também a mais importante das respostas que lhe podem ser dadas.

 

Agradece-se a vida em silêncio.

 

Que eu aproveite a vida que me é dada. Vivendo-a.

Artigos de opinião publicados no site da Agência Ecclesia e Rádio Renascença.

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