Vivemos no mundo dos monólogos
Todos querem falar, ninguém quer ouvir. Muitos expressam o que pensam e sentem, mas poucos se deixam impressionar.
Tiramos conclusões de forma muito rápida e ficamos mais seguros desses nossos julgamentos precipitados a respeito de tudo e todos, como se não fossemos capazes esperar um pouco mais para que, com tempo e inteligência, descobrir a verdade por baixo das primeiras aparências. Talvez porque pensámos que não há nada para além disso.
É já raro que alguém vá ao encontro de outro, com vontade de o escutar e de com ele construir algo, de chegar a novas ideias e melhores perspetivas.
É preciso coragem para nos silenciarmos, para deixarmos, ainda que apenas por algum tempo, de nos colocar no centro de um mundo onde os outros não são mais do que atores secundários. Figurantes. Como se só o eu importasse.
Não sou apenas eu que preciso de ser escutado, que preciso de dizer o que me atormenta. Só quem abre o seu coração ao meu é capaz de partilhar as minhas cruzes mais íntimas. Confessar o mal que me desespera é um grande passo para vencer essa angústia, mas é preciso que haja quem me escute, ou melhor, quem me queira escutar.
Calemo-nos por um tempo, tentemos entender o que os outros dizem, o que repetem, o que buscam e de que precisam. Por vezes, são apenas insignificâncias que desejam apenas o conforto de ter o olhar do outro por um instante. Mas também há quem precise mais do que um simples silêncio atento nosso… e esses costumam falar baixo. Por baixo dos longos e exaltados monólogos dos outros.
Qualquer diálogo é enriquecedor, mesmo que aquele com quem não sabe muitas coisas, mesmo que saiba muito pouco, porque o valor de cada um de nós não está no que sabemos, mas no que fazemos de facto para ajudar o outro. Afinal, a sabedoria é saber apenas o que importa saber, nada mais do que isso.
De que me serve saber tantas coisas se, quando é necessário, não sou capaz de socorrer o meu irmão na sua fragilidade?