A morte dos outros e a minha
A morte aparece-nos sempre como algo distante. Não a tomamos como natural, pelo menos em nós mesmos e naqueles que amamos. Julgamo-la como algo inevitável, mas apenas para os outros, nunca para nós. Como se estivéssemos certos de que algures no futuro alguma coisa de sobrenatural nos confirmará que nós, afinal, não precisamos mesmo de morrer.
Talvez por isso nos sintamos traídos ou pelo menos desiludidos quando alguém próximo nos morre. A pessoa morre e morre-nos. Também porque o seu vazio nos obriga a ver a verdade nossa existência de forma menos ingénua.
Só se vive de forma plena quando se integra no coração a certeza de que a vida neste mundo é finita. Tal como teve um começo, terá um fim. Pode ser um fim esperado, talvez daqui por muitos anos ou súbito, trágico e inesperado daqui a pouco tempo… E nem sequer vale a pena buscar o porquê ou a justiça da hora da morte. É assim.
Só quem sabe o que é a morte saberá o que é a vida. Como seria bom se todos tivéssemos tanto medo da morte como de uma vida medíocre. Talvez vivêssemos mais.
A morte talvez seja um ponto na eternidade onde deste mundo se passa para outro, do qual este já faz parte, apesar de haver muita gente que o ignora.
Há até quem acredite, com uma fé convicta e imensa, que chegámos à vida sem qualquer sentido, a não ser o acaso, e que a morte é o fim absoluto da pessoa. Ou seja, que não passamos de uma espécie de coincidência insignificante do universo que, todo ele, não tem nenhum sentido ou razão.
Mas mais do que compreender a vida em geral, importa é viver a vida que está ao meu dispor. Não desperdiçando o tempo, porque o objetivo da minha vida não é morrer, mas é que eu seja feliz.