O Professor
«Um jovem pianista, após um longo período de aprendizagem e muito treino, finalmente agendou o seu primeiro concerto. A tão desejada data espalhou-se por todo o país e quase não havia bilhetes para vender, uma vez que o jovem convidou toda a sua família e amigos para a aguardada estreia nos palcos. Chegou o dia do concerto!
A sala estava esgotada e o seu nome ia sendo gritado pela plateia, uns para lhe dar apoio e outros porque ouviram falar muito bem dele, o entusiamo era muito. Entrou no palco e foi recebido com um tamanho aplauso que até a sala pareceu estremecer. À primeira nota o silêncio tomou conta do lugar, e os olhos de todos estavam fixados no jovem pianista, contemplando aquele momento que parecia único. Apenas aqui ou ali o silêncio dava lugar aos aplausos, conforme ia tocando de forma sublime as diferentes peças.
Assim que terminou o concerto, a plateia levantou-se em apoteose, contentes com aquilo que tinham assistido, mas curiosamente o rosto do pianista permanecia fechado, como que inerte, sem esboçar qualquer expressão que correspondesse àquilo que estava a receber da plateia.
Não obstante a sua reação, os amigos e familiares foram ao backstage do concerto e de novo manifestaram a sua enorme alegria ao jovem: “Uau, foste espetacular! Do melhor que ouvi até hoje!” Outros disseram ainda: ”nunca tinha estado num concerto tão bom!”. Apesar de todas as palavras, abraços e sorrisos, o estado de espírito mantinha-se numa certa apatia.
Finalmente um dos seus melhores amigos ganhou coragem e abordou-o: “então o que é que se passa? Toda a gente ficou maravilhada com a tua performance, toda a gente te aplaudiu de pé! Bem... toda a gente não – disse a rir-se! Apenas um senhor de idade é que não se levantou pois certamente já estaria cansado e aborrecido com tanto barulho! Por isso não tens razão nenhuma para estar triste! “Pois é…- disse o jovem pianista, é que aquele senhor de idade que não se levantou a aplaudir, era o meu professor de piano!”»
Quando penso sobre o verdadeiro significado de fazer o bem, penso sempre nesta história...
Quando à nossa volta todos nos dão palmadinhas nas costas, enaltecendo o bem que fizemos e a coragem com que o fizemos, ficamos nessa alegria dos outros, nesse sentimento de missão cumprida porque eles viram o bem que fiz. Ficamos na apoteose das palmas do concerto!
O meu primeiro concerto foi a minha experiência missionária na selva amazónica. É indescritível a alegria de ser missionário mas, quantas vezes chorei perguntando-me o que estava ali a fazer... Estava a ser altruísta por levar o Evangelho aos lugares mais distantes ou egoísta por esta experiência ser era algo que eu desejava muito? Acredito que transformei a vida a muitas pessoas, mas será que essas pessoas sentem ou sentiram o mesmo? Eu sinto que doei um tempo da minha vida, mas entreguei-me completamente ao próximo?
Sempre que surge um “mas” podemos entender esse como o momento do grande desafio para nós: olhar para o Professor. Esse é o momento em que nos conectamos, em que fixamos os nossos olhos nos d’Ele, em que abrimos o nosso coração e nos deixamos invadir por Ele. Esse é o convite que Deus nos faz a cada concerto que damos: voltar a Ele!
Para quê? Para que sejamos verdadeiros discípulos.
Por isso, não te sintas triste se o Professor não se levantar para te aplaudir: sente-te enviado!