A humildade é necessária para compreender Deus e a nós mesmos
Inicio a minha reflexão com uma saudação, que é ao mesmo tempo agradecimento, ao Papa Francisco pelo seu 10º aniversário no seu ministério petrino. E faço-o partilhando a primeira reação que um amigo, sacerdote italiano, escreveu numa rede social naquele dia 13 de março de 2013.
«Cruz de madeira sobre o peito... Saudação amiga... Oração pelo seu antecessor... Convite a caminhar juntos... Cabeça inclinada durante a oração pedida para ele (e por ele)... Para mim, sacerdote na sua Igreja, já é um Papa exemplar! Além disso, o nome escolhido, Francisco, indica o caminho para a 'Casa a reparar' que é a Igreja de hoje, nem sempre enraizada na Rocha! Gosto deste Papa que em poucos minutos reacendeu em mim o entusiasmo de pertencer à Igreja e reafirmou a centralidade de Cristo na vida dos cristãos de hoje! A Ele todo o meu carinho e pensamento! Bom caminho connosco, Papa Francisco!» Eugenio Perico, SMM
Recordo as suas palavras nesse dia: «E agora eu gostaria de dar a Bênção, mas antes – primeiro, peço-vos um favor: antes que o bispo abençoe o povo, peço-vos que rezem ao Senhor para me abençoar: a oração do povo, pedindo a Bênção para o seu Bispo. Façamos em silêncio esta oração de vós por mim». Primeira Bênção Urbi et Orbi.
Já se passaram dez anos desde a eleição de Bergoglio, o primeiro jesuíta a tornar-se papa. O primeiro pontífice do continente americano. E o primeiro a escolher o nome de São Francisco de Assis.
Um papa definido por muitos como revolucionário, que desde o início da sua missão deixou claro ao mundo que concebe a Igreja como sinodal: uma comunidade que caminha unida e onde ninguém é excluído.
O Papa Francisco é revolucionário na linguagem e na imagem papal, mas está perfeitamente alinhado com os papas reformadores que o precederam no que diz respeito ao governo da Igreja. Por exemplo, vejo uma grande continuidade no primado da caridade na missão da Igreja: a teologia do amor do Papa Bento XVI encontra correspondência na pregação da misericórdia do Papa Francisco. Os dois parecem-me contrários ao mundanismo eclesiástico e à busca de poder por parte de membros da Igreja. Ambos apelam à humildade!
A humildade é o caminho que nos conduz a Deus e, ao mesmo tempo, precisamente porque nos conduz a Ele, leva-nos também ao essencial da vida, ao seu sentido mais verdadeiro. «Sem humildade, estamos impedidos de compreender Deus, de compreender a nós mesmos» - palavras de Francisco no natal de 2021.
Encontrei na internet alguns escritos de Madeleine Delbrêl (1904-1964). Para quem não a conhece, foi uma grande poetisa francesa do século XX. E, também uma mulher pro ativa nas questões sociais. Capaz de estabelecer laços de fraternidade com todos, mesmo com aqueles que, como os comunistas franceses que moravam no seu bairro, eram distantes dela em ideias e princípios.
E encontrei este seu poema que nos fala desta humildade cristã. Desta humildade tão necessária para esta Quaresma tão assolada pela pedofilia na Igreja e com tanta expressão de opiniões, nem sempre na e da melhor forma.
Deixo-a também como oração para esta Quaresma:
«Na minha comunidade
Senhor ajuda-me a amar,
ser como o fio
de um vestido.
Ele mantém unidas
as várias peças
e ninguém o vê senão o alfaiate
que lá o colocou.
Tu Senhor meu alfaiate,
alfaiate da comunidade,
faz-me capaz de
estar no mundo
servindo humildemente,
porque se o fio se vê é porque
tudo saiu mal.
Faz-me amar nesta tua Igreja, porque
é o amor que mantém
juntas as várias peças.»
Madeleine Delbrêl, O fio do vestido