Os meus mortos vivem comigo
Quando a morte leva para longe alguém que amamos, tudo o mais perde importância. A vida fica estranha, por um lado parece que afinal não tem valor algum, mas, por outro, torna-se mais preciosa do que nunca.
Faz-nos falta quem perdemos e faz-nos falta aprender a lidar com a nossa vida sem eles.
A existência como que perde sentido, porque ficamos sem compreender nem a morte nem a vida.
E a minha? Quando será? Sofrerei? E os meus, sentirão a minha falta?
Talvez seja bom eu aprender a preocupar-me mais com a minha vida do que com a minha morte. Se vivo à espera de morrer, morrerei à espera de viver.
A vida não é permanecer nem desaparecer. É ir evoluindo ao longo do tempo, até mesmo depois das negras trevas da morte nos tomarem. Ficamos com os que ficam, levando connosco, para onde formos, o amor com que se deram a nós. Honra com a tua vida a vida dos que te amaram.
Os que me morrem, matam-me na medida em que a sua vida também era minha. Assim como a minha era sua. Viver é duro, viver sozinho torna a existência quase insuportável. O amor é essencial à vida. Sem amor, tudo, no fundo, é morte.
Quando chega o último momento, não é do amor que nos arrependemos!
Cada dia que passa tira-nos tempo que foi nosso, mas que já não o é. Tal como na morte, a vida é acabar e começar a cada instante.
O que viam os meus olhos antes dos meus pais sequer se conhecerem? Talvez eu já fosse quem sou, muito antes de nascer, apesar de não o saber. Nem na altura, nem agora!
Tenho de ser capaz de me entregar ao depois com a mesma fé com que tenho a certeza de que o amor nunca morre.
Afinal, de onde me chega a confiança de que acordarei sempre que, a cada noite, me entrego ao sono?
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Dedico este texto ao meu amigo Pe. João Aguiar Campos que terá chegado ao Céu no passado dia 27 de abril de 2023. Obrigado, muito, muito!