Saí de Portugal no Verão cheguei ao Perú no Inverno. No coração ficou o verão dos abraços quentes que guardarei sempre no meu coração. Cheguei ao Peru num Inverno, céu nublado e chuva miudinha. Para chegar ao Peru foi preciso saber ser outono e inverno, foi preciso reconhecer que as rosas do campo não são como as da florista e têm muitos espinhos. Foi preciso sobretudo saber parar e saber que para ser feliz não é preciso mais que vontade. E que o mais importante é saber deixar fluir a vida e o amor. Foi preciso lembrar-me que “há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou” (Ecl 3, 1,2).

Precisamos de deixar fluir a vida. Precisamos de deixar que a vida aconteça. E quebrar a ideia de que ser confiante é ter sempre certezas e ser corajoso é ser forte. A confiança é tantas vezes persistir num caminho de dúvidas e incertezas por amor. A coragem é tantas vezes ousar caminhar frágil. Precisamos de ser frágeis e ter incertezas porque só assim podemos deixar-nos tocar pela vida e pelas pessoas.

Precisamos de ser como a natureza que simplesmente se deixa acontecer, que simplesmente se deixa fluir. Precisamos de ser outono e inverno para só depois ser primavera. Precisamos de deixar que Deus aconteça em nós. Precisamos de carregar no pause dos pensamentos e colocar play no sentir. E sentirmo-nos.

A vida em nós tal como na natureza tem estações. Não é fácil quando se faz outono em nós e tudo o que era certo parece agora incerto. É preciso ser paciente e aceitar que o que cai num outono, florescerá numa primavera. Precisamos de saber reconhecer que a nossa vida tal como a natureza precisa de outonos e invernos. Usemo-los para nos entregar ao silêncio, para nos ouvir, para ouvir a Deus, para fazer de nós e do outro terreno sagrado.

A vida não é mais que um caminho de várias estações e precisamos de preparar terreno em nós no Outono e no Inverno para na Primavera e no Verão podermos encontra-los floridos. Como diz o papa “Tudo nasce para florescer numa eterna primavera. Deus nos fez para florescermos.” Deixemo-nos ser outono, permitamo-nos ser inverno e ousemos continuar a caminhar na certeza de que a primavera não tarda. Caminhemos sempre na certeza de que Deus é a nossa primavera.