Os desertos são férteis ao coração
Queremos renascer mas não queremos morrer, queremos ser fortes mas não queremos ser frágeis. Sonhamos castelos e zangamo-nos quando só encontramos pedras no caminho, por só encontrarmos dificuldades. Já pensámos olhar as pedras da nossa vida com os olhos de Deus?
Pedimos a Deus um castelo e zangamo-nos quando Deus nos dá a matéria-prima. Precisamos de olhar as pedras como matéria-prima de castelos. Fernando Pessoa dizia: “Pedras no caminho guardo-as as todas um dia construo um castelo.” Deus é quem torna as dificuldades num degrau de um caminho de felicidade até ao nosso sonho, à nossa missão.
Talvez em alguns momentos a vida não seja mais que uma travessia de um deserto em que a floresta e o sonho sejam pura miragem. Ousemos percorrer esse deserto. Jesus caminhou no deserto 40 dias e 40 noites e depois permitiu que o matassem para alcançarmos amor. Quantas sementes já tiveram de morrer para que árvores lindas nascessem? Deixemo-nos morrer. Atravessemos o deserto. Khalil Gibran escreveu “da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica. E da mesma forma que contribui para vosso crescimento, Trabalha para vossa poda.”. Deixarmo-nos podar por Deus não é mais permitir-nos ir com Ele. O caminho da felicidade também envolve a travessia do deserto. Mas não duvidem que como diz D. Hélder da Câmara o deserto é fértil. O deserto é fértil ao coração. Por isso olhemos os obstáculos, encontremos-lhe outro sentido. Aceitemos percorrer o deserto. Deixemo-nos habitar pelo silêncio em que Deus nos fala, nos olha e nos ama. Então, as pedras serão castelos, sementes serão flores e os obstáculos serão caminho para o sonho.
Se queremos renascer, se queremos uma vida nova devemos deixar-nos moldar por Deus. Temos de deixar-nos ser como o vaso de barro partido que por ser partido deixava cair água pelo caminho. A senhora que o carregava chegava a casa sempre com o vaso a meio. Quando cansada quis comprar um novo, inteiro, olhou e viu o caminho que percorria cheio de flores. Afinal se o vaso não se tivesse partido não havia agora um bonito jardim. Deixemo-nos ser o vaso partido. Façamos das pedras, degraus. Façamos da tempestade a chuva que precisávamos para fertilizar o nosso coração.