Tolentino Mendonça pede “outras gramáticas” para o mundo pós-pandemia.

Notícias 14 maio 2021  •  Tempo de Leitura: 4

A “experiência de crise mais extrema” pode ser transformada “numa ocasião para relançar a vida, para restaurar a sua frágil arquitectura, para propor um novo começo”. A olhar já para um mundo pós-pandemia, o cardeal D. José Tolentino Mendonça, pareceu querer, esta quinta-feira, em Fátima, onde presidiu a mais uma celebração do 12 e 13 de Maio, esconjurar o fatalismo e “devolver a esperança a quantos se sentem cansados e oprimidos”.

 

“O mundo fatigado por esta travessia pandémica que ainda dura, e que pede a cada um de nós vigilância e responsabilidade, não tem apenas fome e sede de normalidade: precisa de novas visões, outras gramáticas, precisa que arrisquemos ter sonhos”, anunciou, numa homilia dita perante um recinto limitado a 7500 pessoas, o que deixou muitos peregrinos de fora.

 

“O verdadeiro desconfinamento é aquele que o amor opera em nós. O amor é o mais verdadeiro, o mais profético, o mais necessário desconfinamento”, acrescentou o bibliotecário do Vaticano, apontando ainda o amor como antídoto contra o vírus e, mais do que isso, como ingrediente fundamental de relações “que tocam os alicerces da vida”, por oposição às “relações pontuais, puramente epidérmicas, das relações de indiferença, de consumo ou de descarte.”  

 

Antes do cardeal, os peregrinos viram um vídeo do Papa Francisco, que lhes pediu que aproveitassem a sua presença no santuário para rezarem por si e por todas as vítimas directas e indirectas da pandemia. E foi já depois desta mensagem, saudada com um forte aplauso, que D. José Tolentino Mendonça sustentou que Jesus “transforma – e ensina a transformar – as crises em laboratórios de esperança”.

 

“Numa hora de encruzilhada da história como esta que vivemos não podemos fazer coincidir o relançamento da esperança unicamente com o cuidado pela expressão material da vida”, alertou ainda o poeta. De seguida, reconhecendo que “é urgente garantir o pão e esse trabalho exigente de reconstrução económica”, D. José Tolentino lembrou que “as sociedades precisam também de um relançamento espiritual”.

 

“As necessidades humanas são físicas (necessidade de pão, de protecção social, de habitação, de cuidados de saúde, mas são também morais e espirituais”, pregou, recuperando para a actualidade o pensamento da filósofa Simone Weil, quando esta se referiu, em 1943, à necessidade de um projecto espiritual capaz de fazer renascer a Europa da devastação provocada pela II Guerra Mundial.

 

“A experiência da pandemia e a crise poliédrica e global que ela instaurou representam igualmente para a contemporaneidade um imenso desafio a renascer”, comparou, para considerar que “não basta voltarmos exactamente ao que éramos antes: é preciso que nos tornemos melhor”.

 

“Este é chamado a ser também um momento de revisão crítica do caminho que realizámos até aqui, de fazer uma espécie de balanço interior que avalie os nossos estilos de vida, os modelos de desenvolvimento e a natureza das opções que nos têm conduzido”, sustentou, antes de concluir: “Estamos a tempo de transformar a crise em oportunidade e a calamidade em esperança.”.

 

Público]

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