A força do Espírito Santo
Por vezes acordamos mais cansados do que estávamos quando nos deitamos. Nesses dias, torna-se pensoso investir nas atividades que exigem um olhar atento e reflexos rápidos. Um corpo ferido por motivos de má alimentação ou por enfermidade adia uma história e permanece bloqueado diante de uma encruzilhada. Há pessoas cronicamente enfraquecidas. Nada lhes apetece. Até a luz do amanhecer é motivo de sofrimento. Falta-lhes a «chama da vida», a força interior que torna a existência uma aventura apaixonante.
A este propósito recordo-me da palavra «dinâmica» que tem a sua origem num termo grego que significa força. Ela faz-me pensar que toda a nossa ação é resultado de uma espécie de explosão primordial, um «big bang profundo» que nos torna seres em constante mutação, mas ao mesmo tempo, seres que permanecem com uma identidade única e inalterável.
A Igreja celebra neste domingo a festa de Pentecostes, o que equivale a dizer a festa do seu nascimento. Antes da “explosão”, os discípulos permaneciam encerrados num útero escuro com medo do confronto com os outros. Era um grupo desunido, sem garra nem graça. O Espírito Santo operou uma inesperada transformação e as suas manifestações continuam a confirmar-se nos mais variados recantos do mundo.
Hoje, como sempre, a Igreja é uma realidade viva dotada de uma força interior que se reflete num processo de contínua metamorfose. É o Espírito Santo que potencia a emergência de novas linguagens e, em certos casos, a alteração das antigas estruturas, para que ela seja, em cada tempo e lugar, o corpo digno do Senhor. Contudo, assim como o tom pálido da pele pode ser sintoma de um problema de saúde mais profundo, alguns comportamentos dominantes numa comunidade podem ser sinais de falta de vitalidade e da ausência do Espírito Santo.
Que sinais são esses?
O ritualismo aliado à indiferença dos irmãos mais frágeis, a falta de criatividade assente no discurso do “sempre foi assim”, a maledicência espontânea ou fomentada, a soberba de quem se julga superior, a avareza dos que veneram o deus deste mundo, a desconfiança das intenções dos outros, o afã de dar nas vistas, o espírito oportunista que faz das igrejas um espaço de consumo e não de compromisso e serviço, enfim, a inveja de quem é feliz.… são indícios de uma mentalidade doente e estéril.
Neste ano de 2020, a celebração do Pentecostes ficará associada à reabertura das portas das igrejas, depois de um longo período em que fomos obrigados a permanecer «fechados com medo» de um vírus que, infelizmente, continua ainda a fazer vítimas. Esta coincidência talvez seja um sinal para a Igreja. Ela deve manter-se de portas abertas para que os seus membros possam, por um lado, sair numa atitude missionária e, por outro, para que os que procuram Deus de coração sincero, possam entrar e encontra-l’O no espaço celebrativo.
Na festa do Pentecostes recordamos a força primordial que permitiu o despertar vocacional da comunidade dos discípulos. Com esta invocação, reavivemos em nós o ardor missionário, porque mesmo em contextos desfavoráveis, somos sempre chamados a proclamar as maravilhas de Deus.