31 de ser MÃE: «A minha experiência de entrega é esta.»
Uma irmã franciscana, com quem vivi em Moçambique disse-me, uma vez, que “ser mãe é sofrer no paraíso”. Até hoje, este é o melhor retrato que tenho da minha “profissão”.
Todos os sofrimentos e angústias por que passamos em fases difíceis da vida dos nossos filhos (doenças, incertezas, histórias de escola,…) todas elas são ultrapassadas ao olhar para aquele sorriso, ao receber aquele abraço, ao dar o colo que me faz sentir que sou a melhor pessoa do mundo. Estes momentos são de verdadeiro paraíso e é por eles que luto em cada dia.
Sou mãe há 12 anos, mas apenas 6 desses anos foram vividos em Portugal. No ambiente de Missão em que vivi, os meus filhos estavam sujeitos a muitas coisas que eu não conseguia controlar. Costumava pensar na história de Abraão e Isaque, no livro do génesis. Pela Missão entreguei os meus filhos a Deus e Ele não deixou que nada lhes acontecesse mal. Nunca.
Poderia contar muitas histórias, mas estas poucas linhas não chegariam para tanto! Recordo a noite em que o Ricardo, meu marido, foi atacado quando assaltaram a missão. Nessa noite ele deveria ficar com a Raquel para eu ir a uma reunião na escola. Não ficou porque tinha combinado outras coisas…. Fiquei zangada com ele e peguei na miúda e lá fui eu… a pensar nas malárias que ela podia apanhar por andar na rua à noite… estava mesmo chateada! Esta foi a primeira e única noite que ela foi comigo à reunião… Esta foi a noite que assaltaram a Missão. Espancaram todos os que lá tinham ficado para conseguirem algum dinheiro. E o que teria acontecido à Raquel se ela lá tivesse ficado?
E aquela fase em que o Diogo tinha otites todos os quinze dias? E todos os quinze dias lhe eram dadas injeções de Penicilina. Era o melhor que se podia fazer em Mecanhelas, numa terra lá longe, ao norte de Moçambique. Calhou precisarmos de ir ao Malawi para fazer as habituais compras para a Missão. Calhou que, precisamente nessa semana que lá chegámos, ia estar ali um médico otorrino que só se deslocava àquela cidade 3 vezes por ano, não mais do que 3 ou 4 dias. E calhou precisamente ser nos dias que lá estávamos! O Diogo foi observado e naquele dia à tarde, foi operado e tratado. Coincidência? Não me parece…
A melhor forma de não angustiar quando penso nos meus filhos, quando eles não estão ao pé de mim, no que lhes pode acontecer, é recordar que, de facto existe uma proteção gigante. Uma proteção que eu não consigo dar, que está fora do meu alcance. Estes anos na missão fizeram-me perceber que Ele está lá SEMPRE. Basta eu deixar que Ele atue.
A minha experiência de entrega é esta. Sei que Deus olhará por eles e eu posso viver um pouco mais descansada. Seria bom que todas as mães experimentassem esta entrega a Deus do seu maior projeto.
[© Testemunho de Elizabeth Santos | 2014]