31 de Ser MÃE: «é algo de transformador»
Há anos ofereci a uma amiga que partia para um ano de voluntariado em África um livro, Cause Celeb, que falava de forma ligeira e até divertida de assuntos sérios: refugiados e um surto de fome. Na dedicatória escrevi uma frase que alguém dizia lá pelo meio do livro: que os voluntários europeus iam para África para dar e terminavam sempre recebendo muito mais daquela terra e daquelas gentes. Quando me desafiaram para escrever sobre ser mãe, foi este aparente paradoxo que me ocorreu. Ser mãe é dar um amor infinito – e porventura o amor pelos filhos, das mães e dos pais, é o único amor humano infinito – aos filhos e, sempre inesperadamente, percebermos que afinal somos recompensados com muito mais.
E ser mãe, ou, melhor, tornar-me mãe, é(foi) algo de transformador. Talvez pela experiência do tal amor infinito – e o amor é algo de purificante, tal como os desamores são tóxicos – ou por falta de tempo para inutilidades. Ou, também, porque nos confrontamos com as nossas limitações (nunca somos as mães perfeitas que gostaríamos de ser) e com os nossos erros a educar os filhos (irritamo-nos, exageramos, não temos paciência suficiente mas temos cansaço em demasia, não há garantias de que tomamos as melhores decisões para os seus futuros,…). Mas, havendo humildade, podemos melhorar, que perceber as nossas falhas é o início disso mesmo. No meu caso ficou muito mais claro o que é importante, prioritário, aquilo por que vale a pena esforçar-me. Deixou de fazer sentido gastar tempo, energia e emoções em situações e pessoas e projetos que pouco valor trazem à minha vida e, por vezes, azedam muito. Como diziam os Beatles, ‘life is very short and there´s no time for fussing and fighting’.
Os momentos mais marcantes enquanto mãe são, curiosamente, os quotidianos. Quando os meus filhos adormecem abraçados a mim, dizem ‘a mãe é tão bonita’, oiço a suas gargalhadas ou os seus passos enérgicos pela casa, os vou buscar à escola e sou recebida com alegria esfuziante; quando superam os desafios que a vida já lhes vai trazendo e saiem deles radiantes de satisfação e orgulho; quando vejo como o meu filho mais velho é de uma coragem assombrosa (muito além da coragem física) e o meu filho mais novo gosta de se arvorar em protetor da família; quando exercitam os seus sentidos de humor e os seus talentos.
Termino lembrando que nós, mães, temos um enorme poder: podemos educar filhos que busquem afincadamente quer a felicidade individual quer o bem-comum. Continuemos, então.
[© Testemunho de Maria João Marques | 2014]