Conto: As aranhas do curral

Conto 15 dezembro 2018  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez uma aranha que tinha dois filhotes e procurava casa para viver. Como o frio apertava, precisavam de um sítio acolhedor e confortável já que tinham sido, mais uma vez, expulsas por uma vassoura malvada. Lamentavelmente, já estavam acostumadas a andar de malas às costas de um lado para o outro.

 

Depois de muito caminharem com as suas muitas patitas, pararam em frente a uma velha porta entreaberta. A mãe aranha disse aos seus pequenotes que se calassem e que esperassem um pouco. Espreitou e, sem hesitar, logo entrou com os miúdos. Era um curral de animais. Não era propriamente uma casa luxuosa, mas parecia ser quentinha pois havia uma vaca e um burro que não aparentavam ser grande ameaça. Além disso, havia por ali algumas moscas e mosquitos deliciosos.

 

Muito sorrateiramente, rapidamente escalaram as paredes rumo a uma esquina do teto junto a algumas tábuas de madeira. A aranha ia explicando às crianças que a vida não era fácil, mas que não se podia desistir diante das dificuldades. Tinha a impressão que a sua família podia ser feliz ali e sentia que descobrira um lar que não iam esquecer jamais. O local parecia sossegado e havia alimento em abundância.

 

Ainda estavam todas a dar um abraço de satisfação, quando a velha porta se abriu abruptamente. Entrara um homem idoso e logo atrás um jovem casal. Apressadamente, a senhora sentou-se e foi consolada pelo marido. Após breve conversa, o velhote saiu e as pequenas aranhas, bem como a vaca e o burro, ficaram assustadas com a azáfama daqueles intrusos. Mais apreensivas e intrigadas ficaram quando, passadas umas horas, se deram conta que haviam ficado dois humanos naquela grutinha e que, de um momento para o outro, aparecera do nada um outro bem mais pequenino e ruidoso.

 

Apesar de não estarem a perceber nada daquilo, toda a bicharada decidiu continuar na sua vidinha. A vaca e o burro aproveitaram para comer mais um bocado de palha e a mãe aranha decidiu tecer uma teia, enquanto ensinava os filhos a construírem as suas. Contudo, a cria mais nova, que era sempre a mais traquina e preguiçosa, em vez de escutar a mãe sobre as formas da criação de teias fortes e capazes de apanhar insetos, decidiu ir investigar aqueles seres estranhos.

 

Achava piada àquele bebé que chorava e que parecia ser o centro das atenções dos pais e até dos dois animais graúdos daquele curral. Então, através de um dos seus fiozinhos, desceu e parou mesmo perto da cabecinha da criança.

 

Surpreendentemente, o bebé parou de chorar e olhou fixamente para a aranha atrevida. Levantou os bracitos e começou a sorrir. A pequena aranha nunca tinha estado tão próxima de humanos e sentia-se um herói por não estar a ser maltratada. Claro que a mãe aranha estava aterrorizada com a ousadia do filho, mas, ao mesmo tempo, sentia que aqueles dois seres adultos pareciam ser boa gente pois eram simples, amáveis e ternurentos e não tinham aspeto de fazer mal a uma mosca, nem sequer a uma aranha.

 

Os dias e as noites frias de inverno iam-se desenrolando e apenas havia barulho e bulício quando entravam outras pessoas que visitavam o simpático menino do casal e os enchiam de valiosos presentes. No entanto, o menino não parecia achar grande graça àquilo que lhe davam e só prestava atenção às teias que aquela família construía. As pequenas aranhas pulavam e dançavam de um lado para o outro e provocavam sonoras gargalhadas ao menino.

 

Quando o menino se deu conta que os pais haviam decidido inesperadamente ir embora, quis levar consigo as aranhas e todas as suas teias. Contudo, tinham pressa e iam para muito longe. Então, prometeram-lhe que todos os anos, por aquela mesma altura, iriam colocar junto à lareira um pinheirinho cheio de fios coloridos, que lhe recordassem as teias das suas amiguinhas, e uns bonequinhos em barro, que representassem aqueles dias tão especiais ali passados. As aranhitas ficaram muito felizes e a mãe aranha sugeriu que passassem a construir as suas teias como belas obras de arte em homenagem àquele menino tão especial.

Paulo Costa

Conto

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