Conto: Os pinguins do iceberg
Era uma vez um grupo de pinguins que vivia na Antártida. Eram muito amigos e gostavam de estar em grupo de forma a suportar melhor as temperaturas muito baixas. Faziam rotação de posições para que todos dispusessem de oportunidade para estarem mais quentes durante algum tempo no centro e, por isso, mais longe do frio gélido da região, apesar de possuírem uma camada isolante que os ajudava a conservar o calor corporal na água gelada.
Os pinguins possuíam uma coloração por contraste para camuflagem, já que, vistos ventralmente, a cor branca confundia-se com a superfície refletiva da água, e vistos dorsalmente, a plumagem preta tornava-os menos visíveis na água, ajudando-os a evitar as orcas e as focas-leopardo, que eram os seus maiores inimigos.
As asas atrofiadas eram inúteis para voar, mas na água tinham a função de barbatanas, tornando-os muito ágeis e exímios nadadores. Na terra, usavam a cauda e as asas para manter o equilíbrio na postura ereta e pareciam caminhar de forma desajeitada. A verdade é que eram aves marinhas que podiam passar três quartos das suas vidas na água e procuravam alimento a cerca de 18 metros de profundidade.
Naquele grupo de pinguins, todos estavam atentos e curiosos em relação ao mais recente casal que se tinha apaixonado e os mais velhos davam muitos conselhos e partilhavam a sua experiência de vida. A maior parte deles acasalava para toda a vida e era um exemplo de amor, fidelidade e espírito de família.
Passadas algumas semanas, e após a construção de um ninho com pedras, a fêmea pôs um ovo,para satisfação do casal e de todo o grupo. Durante quase 6 semanas, os jovens pais pinguinsrevezavam-se na busca de alimento de forma a que o ovo nunca ficasse sozinho e estivesse sempre quente. Quando o filhote nasceu, foi uma alegria enorme para toda a colónia.
Alimentava-se de alimentos já digeridos pelos pais e estava sempre protegido por eles do ataque de gaivotas e de outros pinguins menos simpáticos. Quando o filhote cresceu e a penugem deu lugar às penas, os pais ensinaram-no a nadar e a procurar alimentos sozinho.
Um dia, os pinguins reuniram-se porque, desde há uns anos, era evidente a subida da temperatura e, ainda que, por vezes, o frio fosse difícil de suportar, era nesse ambiente que se sentiam bem. A região onde viviam apresentava uma ausência incomum da sua cobertura de gelo e, por isso, decidiram transferir a sua colónia algumas centenas de metros para o interior, rumo a uma área gelada mais protegida. Era notório o derretimento do gelo e o aquecimento do ar e isso poderia pôr em risco de extinção toda a comunidade, além de que se viam cada vez mais icebergues à deriva no mar, após se desprenderem da placa terrestre.
A verdade é que os pinguins eram obrigados a viajar mais quilómetros para se alimentarem e, com as temperaturas das águas mais altas, eram obrigados a mergulhar mais fundo à procura de peixe e estavam muito mais tempo longe da família e das crias e isso poderia comprometer o sucesso reprodutivo da espécie.
Um dia, o jovem casal de pinguins passeava com o filhote na água e foram surpreendidos por uma enorme tempestade e apenas tiveram tempo de nadar para um icebergue para se salvarem. Os ventos fortes, as chuvas torrenciais e a agitação do mar levaram irremediavelmente a família de pinguins para longe e andaram à deriva durante vários dias.
Para sorte dos três jovens pinguins, um quebra-gelo andava por aquelas bandas com uma equipa de televisão que fazia uma reportagem sobre as alterações climáticas, o aquecimento global e o degelo das zonas glaciares e foram recolhidos e salvos de uma morte mais que certa.
Levaram-nos para a sua terra e para junto dos seus amigos e, em poucas minutos, as imagens dos pinguins debilitados e famintos em cima do icebergue, em consequência das mudanças do clima, correram o mundo e sensibilizaram como nunca as populações e os governantes.
Em poucos dias, todos os principais responsáveis políticos decidiram, de uma vez por todas, tomar medidas concretas para reverter a tragédia do aquecimento global e os pinguins tornaram-se o símbolo da luta pela consciência ecológica e contra o egoísmo humano.