Conto: «O GOLFINHO DA BAÍA»

Conto 15 novembro 2017  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez um pescador que vivia numa aldeia onde todas as casas eram de madeira e acomodavam-se em cima de estacas junto a uma baía. A pequena povoação estava rodeada de coqueiros e palmeiras que se debruçavam e espreguiçavam sobre o areal e todas as famílias dedicavam-se à pesca.

 

O pescador tinha uma filha que desde pequena o acompanhava de vez em quando na faina. Nada lhe dava maior satisfação do que ajudar o pai a lançar as redes ao mar para apanhar peixe para a alimentação da família e ainda para vender algum.

 

Os tempos andavam difíceis pois o oceano parecia abespinhado e não andava muito generoso. Ir ao mar era perigoso e o peixe que chegava à baía era escasso. O pescador tinha que deixar o seu barco na praia a maior parte dos dias e a fome apertava para todos naquelas bandas.

 

Um dia o pescador conseguiu fazer-se ao mar na esperança de conseguir trazer daquela vez algo que se visse. O dia estava solarengo e a ondulação estava serena e, depois de ter lançado a rede, pareceu-lhe que a jornada poderia ser coroada de êxito. Sentia muito peso e agitação na rede e isso amiudadamente era sinal de abundância na pescaria.

 

A filha do pescador estava na praia sentada na areia e, quando observou o pai entrar na baía com os braços no ar, alegrou-se pois havia muito tempo que não o via tão satisfeito com as incursões no mar. No entanto, quando o pescador chegou ao areal e puxou a rede da pesca o que descobriu foi um golfinho desesperado a lutar pela sobrevivência.

 

O pescador apressou-se a remover o golfinho do emaranhado de redes, algas, areia, pedras, conchas e paus e a filha lançava-lhe água, enquanto o acariciava. A tarefa não estava a revelar-se fácil e até a mulher do pescador se juntou a eles para tentar salvar o golfinho.

 

Depois de uma boa meia hora de labuta, o golfinho ficou livre daquelas coisas todas que o aprisionaram e podiam ter-lhe causado a morte. Os três empurraram calmamente o golfinho para as águas da baía e pareceu que tudo estava bem com ele pois rapidamente mergulhou e começou aos saltos, pouco se importando de, mais uma vez, não terem tido sorte na pesca.

 

Nos dias seguintes de manhazinha, a rapariga abria a sua janela com portadas de madeira e olhava para a baía na esperança de vislumbrar o golfinho. Ao entardecer, passeava longamente pela praia e sentava-se num rochedo na extremidade da baía a pedir a Deus que pudesse voltar a ver o golfinho nem que fosse apenas por mais uma vez.

 

Numa noite em que as estrelas pintavam o céu e a lua como que se banhava nas águas da baía e iluminava a praia, a rapariga, sentada no rochedo do costume a olhar o horizonte, começou a cantar uma suave melodia que aprendera em criança. Para seu espanto, viu sair a cabeça do golfinho que, sem receio algum, emitia uns sons como que acompanhando a sua canção. O golfinho parecia sorrir-lhe e dava alegres guinchos e estalidos. 

 

A rapariga não sabia o que pensar e serenamente desceu do rochedo e mergulhou. Nadava pela baía na companhia do golfinho e a sua alegria era completa. Cantavam e brincavam juntos e ele saltava e rodopiava à sua volta como se não houvesse amanhã e nem nada nem ninguém importasse no mundo inteiro. Passaram toda a noite num bailado de uma beleza única, graciosidade ímpar e cumplicidade sem igual.

 

Toda a aldeia ficou maravilhada quando a filha do pescador contou tudo o que acontecera naquela noite e a verdade é que o golfinho não mais voltou a afastar-se da baía.

 

O golfinho acompanhava todos os barcos da aldeia quando iam à pesca e gostava de saltar alegremente à sua volta e, como se alimentava de peixes, lulas, moluscos e camarões, os pescadores seguiam-no e não mais voltaram a sentir falta de peixe. E agradeciam aos céus pelo extraordinário presente que lhes tinha sido dado.

 

O golfinho mudara para sempre a vida da aldeia da baía e a felicidade e a harmonia era uma realidade por aqueles lados. Apenas a rapariga conseguia tocar, nadar e brincar com ele e as pessoas acreditavam que eles conseguiam falar um com o outro. As pessoas da aldeia passaram a chamar-lhe Sereia e ela deu o nome de Oceano ao seu golfinho.

Paulo Costa

Conto

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