Papa retoma catequeses sobre a missa: Ato penitencial
O papa prosseguiu hoje as catequeses sobre a missa, durante a primeira audiência semanal das quartas-feiras de 2018, no Vaticano, depois de em dezembro ter começado este itinerário espiritual e formativo aprofundando o sentido das primeiras palavras da celebração eucarística.
«Retomando as catequeses sobre a celebração eucarística, consideramos hoje, no contexto dos ritos introdutórios, o ato penitencial. Na sua sobriedade, ele favorece a atitude com a qual cada participante se dispõe a celebrar dignamente os santos mistérios, isto é, reconhecendo perante Deus e os irmãos os nossos pecados, e portanto que somos pecadores. O convite do sacerdote, com efeito, é dirigido a toda a comunidade em oração, porque todos somos pecadores. O que é que pode dar o Senhor a quem já tem o coração cheio de si, do próprio sucesso?
Nada, porque o convencido é incapaz de receber perdão, saciado como está da sua presumível justiça. Pensemos na parábola do fariseu e do publicano, onde somente o segundo volta a casa justificado, ou seja, perdoado (cf. Lucas 18, 9-14). Quem está consciente das próprias misérias e baixa os olhos com humildade sente pousar sobre si o olhar misericordioso de Deus. Sabemos por experiência que só quem sabe reconhecer os erros e pedir desculpa recebe a compreensão e o perdão dos outros.
Escutar em silêncio a voz da consciência permite reconhecer que os nossos pensamentos são distantes dos pensamentos divinos, que as nossas palavras e as nossas ações são muitas vezes mundanas, isto é, guiadas por escolhas contrárias ao Evangelho. Por isso, no início da missa, cumprimos comunitariamente o ato penitencial mediante uma fórmula de confissão geral, pronunciada na primeira pessoa do singular. Cada pessoa confessa a Deus e aos irmãos que pecou “muitas vezes por pensamentos, palavras, atos e omissões”. Sim, também nas omissões, ou seja, termos deixado de fazer o bem que poderíamos ter feito. Com frequência sentimo-nos bem porque – dizemos – “não fiz mal a ninguém”. Na realidade, não basta não fazer mal ao próximo, é preciso optar por fazer o bem, aproveitando as ocasiões para dar bom testemunho de que somos discípulos de Jesus.
É bom sublinhar que confessamos quer a Deus quer aos irmãos que somos pecadores: isto ajuda-nos a compreender a dimensão do pecado que, enquanto nos separa de Deus, nos divide também dos nossos irmãos, e vice-versa, o pecado corta, corta a relação com Deus e com os irmãos, na família, na sociedade, na comunidade. O pecado corta sempre, separa, divide.
As palavras que dizemos com a boca são acompanhadas pelo gesto de bater no peito, reconhecendo que pequei por minha culpa, e não de outros. É frequente, com efeito, que por medo ou vergonha apontemos o dedo para acusar outros. Custa admitir que se é culpado, mas faz-nos bem confessá-lo com sinceridade, mas confessar os próprios pecados. Recordo a história de um velho missionário a quem uma mulher foi confessar-se e primeiro elencou os do marido, dos amigos, dos vizinhos, e no fim o confessor disse-lhe para passar a elencar os próprios pecados, não os dos outros.
Após a confissão do pecado, suplicamos à Virgem Maria, aos anjos e aos santos para rogarem ao Senhor por nós. Também nisto é preciosa a comunhão dos santos: a intercessão destes “amigos e modelos de vida” apoia-nos no caminho para a plena comunhão com Deus, quando o pecado for definitivamente aniquilado.
O ato penitencial conclui-se com a absolvição do sacerdote, que invoca Deus omnipotente para que “tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna”. Esta absolvição “todavia não tem o mesmo valor do sacramento da Penitência”. Há, efetivamente, pecados graves, ditos também mortais porque fazem morrer em nós a vida divina, que para serem perdoados precisam da Confissão e absolvição sacramental.
Além do “confesso a Deus todo-poderoso e a vós, irmãos…” pode realizar-se o ato penitencial com outras fórmulas, por exemplo: sacerdote: “Tende compaixão de nós, Senhor”; povo: “Porque somos pecadores”; sacerdote: “Manifestai, Senhor, a vossa misericórdia”; povo: “E dai-nos a vossa salvação”. Especialmente aos domingos pode realizar-se a bênção e a aspersão da água em memória do Batismo. É também possível, como parte do ato penitencial, cantar o “Kyrie eléison”: com esta antiga expressão grega aclamamos o Senhor – “Kyrios” e imploramos a sua misericórdia.
A Sagrada Escritura oferece-nos exemplos luminosos de figuras “penitentes” que, reentrando em si mesmas depois de terem cometido o pecado, encontram a coragem de tirar a máscara e abrirem-se à graça que renova o coração. Pensemos no rei David e nas palavras a ele atribuídas no Salmo: “Piedade de mim, ó Deus, no teu amor; na tua grande misericórdia elimina a minha iniquidade” (51, 3). Pensemos no filho pródigo que regressa ao pai; ou na invocação do publicano: “Ó Deus, tem piedade de mim, pecador” (Lucas 18, 13). Pensemos também em S. Pedro, em Zaqueu, na mulher samaritana.
Misturar-se com a fragilidade da argila de que fomos modelados é uma experiência que nos fortifica: enquanto nos faz fazer as contas com a nossa debilidade, abre-nos o coração para invocar a misericórdia divina que transforma e converte. E isto é aquilo qu fazemos ao início da missa.»