«É um contratestemunho falar de pobreza e ter vida de luxo», diz papa

Vaticano 23 maio 2018  •  Tempo de Leitura: 3

«A pobreza é "mãe" e é "muro" da vida apostólica. É mãe porque a faz nascer, e muro porque a protege», declarou o papa esta segunda-feira, no Vaticano, durante a abertura dos trabalhos da assembleia geral dos bispos italianos.

 

Referindo-se ao «dinheiro e à transparência», Francisco frisou que «quem crê não pode falar de pobreza e viver como um faraó» e sublinhou que «sem pobreza não há zelo apostólico, não há vida de serviço aos outros».

 

«É um contratestemunho falar de pobreza e ter uma vida de luxo; e é muito escandaloso tratar o dinheiro sem transparência ou gerir os bens da Igreja como se fossem bens pessoais», afirmou.

 

Depois de mencionar «os escândalos financeiros» ocorridos em algumas dioceses, o papa pediu: «Por favor, faz-me muito mal ouvir que um eclesiástico fez-se manipular colocando-se em situações que ultrapassam as suas capacidades ou, pior ainda, gerindo de maneira desonesta "o óbolo da viúva"».

 

Francisco referia-se às passagens do Evangelho em que Jesus observava como a multidão deitava moedas no tesouro do templo: «Muitos ricos deitavam muitas. Mas veio uma viúva pobre e deitou duas moedinhas, uns tostões. Chamando os discípulos, disse: "Em verdade vos digo que esta viúva pobre deitou no tesouro mais do que todos os outros; porque todos deitaram do que lhes sobrava, mas ela, da sua penúria, deitou tudo quanto possuía, todo o seu sustento"» (Marcos 12, 41-44).

 

«Temos o dever de gerir com exemplaridade, através de regras claras e comuns, isso de que um dia prestaremos contas ao dono da vinha», apontou.

 

O papa referiu-se ao comportamento de um dos bispos presentes no encontro: «Penso em um de vós, por exemplo - conheço-o bem - que nunca, nunca convida para o jantar ou para o almoço com o dinheiro da diocese: paga do seu bolso, caso contrário não convida».

 

A primeira das três «preocupações» assinaladas por Francisco em relação à Igreja católica em Itália foi a «crise das vocações»: «Trata-se do fruto envenenado da cultura do provisório, do relativismo e da ditadura do dinheiro, que distanciam os jovens da vida consagrada».

 

A falta de padres, religiosas e religiosos deve-se também à «trágica diminuição dos nascimentos, esse "inverno demográfico"», a par dos «escândalos e do testemunho morno».

 

«Quantos seminários, igrejas e mosteiros e conventos serão fechados nos próximos anos pela falta de vocações? Só Deus sabe», disse o papa, que propôs transferir padres de dioceses com mais sacerdotes para outras que deles tenham falta.

 

Francisco acentuou igualmente a necessidade de se proceder à junção de dioceses, dado o número demasiado elevado dessas circunscrições em Itália.

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