«A vida é um contínuo "olá" e "adeus"» diz papa

Vaticano 3 junho 2017  •  Tempo de Leitura: 6

«A vida é um contínuo "olá" e "adeus". Muitas vezes são coisas pequenas, mas muitas vezes é um "adeus" durante anos ou para sempre. Cresce-se encontrando-se e despedindo-se. Se não aprenderes a despedir-te bem, nunca aprenderás a encontrar novas pessoas», afirmou o papa a um grupo de crianças, esta sexta-feira, no Vaticano.

 

Respondendo a uma aluna que em breve passará para outra escola e assim deixará de ver assiduamente grande parte dos seus amigos, Francisco lembrou-lhe que «há outros companheiros» a encontrar, e nisso «está o desafio».

 

«Na vida temos de nos habituar a este caminho: deixar alguma coisa e encontrar as coisas novas. E este é também um risco. Há pessoas que têm muito medo - usaste a expressão "tenho medo" - de dar um passo, que permanecem sempre paradas, demasiado quietas e não crescem», assinalou.

 

Quem «se acomoda no sofá não cresce. Fecha o horizonte da vida. E aqui uso uma outra palavra: vê, olha para aquela parede: o que está atrás dela?», perguntou à criança, que respondeu não saber. «Não sabes; assim acontece quando uma pessoa não quer crescer: tem uma parede à frente, não sabe o que é».


«Temos de aprender a olhar a vida olhando horizontes, sempre mais, sempre mais, sempre em frente. E isto é encontrar novas pessoas, encontrar novas situações. Não se esquecer dos outros, não. É sempre uma bela recordação e habitualmente os antigos companheiros encontram-se, saúdam-se. Mas nós temos de caminhar sempre, para crescer», apontou.

 

Em vez de recorrer à palavra "medo", o papa sugeriu à menina que optasse pela expressão "tenho um desafio": «Eu venço o desafio ou deixo-me vencer pelo desafio. Olha para a parede e pensa como é estar no campo, com o horizonte. E esta é a escolha que deves fazer. Atrás do muro não se vê; com o horizonte tu vais mais adiante, quanto mais horizonte há, mais se caminha; o horizonte nunca acaba».

 

Uma criança búlgara também questionou o papa sobre o despedir-se de quem se ama, neste caso para sempre. Entregue a um orfanato nos primeiros meses de vida, foi adotada aos cinco anos por uma família italiana. Um ano e meio depois a sua «nova mamã» morreu, e este ano faleceram também os avós, com quem vivia, juntamente com o pai. «Como se consegue acreditar que o Senhor te ama quando te faz faltar pessoas ou acontecer coisas que tu nunca quiseste?»

 

«Pensemos um pouco, todos junto, com a imaginação, num hospital qualquer de crianças. Como se pode pensar que Deus ama essas crianças e as deixa doentes, as deixa morrer, tantas vezes? Pensai nesta pergunta: porque sofrem as crianças? Porque é que há crianças no mundo que sofrem fome, e noutras partes do mundo há um desperdício tão grande? Porquê? Sabes, há perguntas - como aquela que fizeste - às quais não se pode responder com as palavras», afirmou Francisco.


«Digo-te sinceramente, e tu compreenderás bem isto: quando faço na oração a pergunta "porque sofrem as crianças?", habitualmente faço-a quando vou aos hospitais de crianças e depois saio - digo-te a verdade - com o coração, não digo destruído, mas muito magoado, o Senhor não me responde. Somente olho para o Crucifixo. Se Deus permitiu que o seu Filho sofresse assim por nós, deve haver qualquer coisa nisso que tenha um sentido. Mas, querido Tanio, não te posso explicar o sentido. Tu o encontrarás: mais adiante na vida ou na outra vida», apontou.

 

Explicar esse mistério, «como se explica um teorema matemático ou uma questão histórica», nem Francisco nem «qualquer outro» pode fazê-lo. «Na vida há perguntas e situações que não se podem explicar. Uma delas é aquela que tu fizeste, a partir do teu sofrimento. Mas atrás disso há sempre o amor de Deus. "Ah, e como se explica?". Não se pode explicar. Eu não posso explicá-lo. E se alguém te diz "vem, vem que eu explico-te", duvida».

 

«Far-te-ão sentir o amor de Deus só aqueles que te apoiam, que te acompanham e ajudam a crescer». Obrigado por teres feito essa pergunta, porque é importante que vós, rapazes e raparigas, desde esta idade, comecem a compreender estas coisas, porque isso ajudar-vos-á a crescer bem e a seguir em frente», referiu.

 

Francisco acentuou ainda que é difícil «mudar o mundo», mas não é impossível, e tudo começa com as mãos: ou permanecem fechadas, recusando a dádiva, ou abrem-se: «A mão é um símbolo do coração, coração aberto. Podeis começar a mudar o mundo com o coração aberto».

 

«O mundo muda abrindo o coração, escutando os outros, acolhendo os outros, partilhando as coisas. E vós podeis fazer o mesmo», «mudar o mundo com as pequenas coisas de cada dia, com a generosidade, com a partilha, criando atitudes de fraternidade» e com a «oração por todos».

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