«Saibam falar ao coração dos jovens»: Papa pede mais interioridade

Vaticano 7 dezembro 2017  •  Tempo de Leitura: 5

O papa considera que «o tema da interioridade do coração, da consciência e conhecimento de si» volta a ser proposto «significativamente» na atualidade, «muitas vezes caracterizada pela aparência, superficialidade, pela cisão entre coração e mente, interioridade e exterioridade, consciência e comportamentos».

 

«Saibam falar ao coração dos jovens», contribuindo para os fazer alcançar «a experiência e sabedoria de quantos tiveram a alegria e a coragem de “reentrar em si mesmos” para seguir a própria identidade e vocação humana», apelou Francisco em mensagem por ocasião da 22.ª solene sessão pública das Academias Pontifícias.

 

No texto o papa acentua que os jovens «permanecem muitas vezes envolvidos nos labirintos da superficialidade e da banalidade, do sucesso exterior que oculta um vazio interior, da hipocrisia que mascara a cisão entre a aparência e o coração, entre o corpo belo e cuidado e a alma vazia e árida».

 

Nas palavras dirigidas ao cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura e do Conselho de Coordenação entre Academias Pontifícias, Francisco realça que «os momentos de crise, de mudança, de transformação não só das relações sociais, mas antes de tudo da pessoa e da sua identidade mais profunda, reclamam inevitavelmente a reflexão sobre a interioridade, sobre a essência íntima do ser humano».

 

A mensagem recorda um excerto da passagem evangélica do filho pródigo, quando este, dissipadas as riquezas que tinha herdado do pai, decide voltar a ele: «Então retornou a si e disse: (…) “Erguer-me-ei, irei ter com o meu pai”» (Lucas 15, 17-18).

 

«O itinerário da vida cristã e da própria vida humana pode bem ser sintetizado por este dinamismo, primeiro interior e depois exterior, que desencadeia o caminho da conversão, da mudança profunda, coerente e não hipócrita, e portanto do autêntico desenvolvimento integral da pessoa», sublinhou o papa.

 

Francisco citou também o livro “Comentário ao Evangelho de João”, de Santo Agostinho, autor que, «partindo da sua experiência pessoal, testemunhada nas “Confissões”» [obra], oferece «páginas inesquecíveis e sugestivas».

 

«Reentra no coração (…) porque aí se encontra a imagem de Deus; na interioridade do homem habita Cristo, na tua interioridade tu és renovado segundo a imagem de Deus; na imagem dele reconheces o teu Criador», escreve o doutor da Igreja africano dos sécs. IV-V.

 

Para Francisco, esta passagem continua a merecer ser meditada hoje: «Estas sugestivas afirmações são de extraordinário interesse também para os nossos dias e seriam de repetir a nós próprios, àqueles com quem partilhamos o nosso percurso humano, sobretudo aos mais jovens».

 

“‘In interiore homine’. Percursos de investigação na tradição latina” foi o tema da sessão pública das sete Academias Pontifícias, que, este ano teve como protagonista a Academia Pontifícia Latinitatis, criada por Bento XVI com o objetivo de apoiar «uma maior consciência e uma utilização mais competente da língua latina, tanto no âmbito eclesial quanto no mundo mais vasto da cultura».

 

Os galardoados desta edição foram Pier Dhambert-Protat, pela tese doutoral sobre Floro de Lyon (séc. IX) e Francesco Lubian, pela publicação crítica dos “Disticha”, atribuídos a Santo Ambrósio (séc. IV).

 

Na sessão foram também distinguidos Shari Boodts, pela edição crítica dos “Sermões” de Santo Agostinho, e o Grupo de Docentes de Latim da Universidade de Toulouse 2, pela publicação de um «notável» manual de latim para universitários.

 

«Confio todos e cada um de vós à Virgem Maria, modelo de interioridade, que no Evangelho de Lucas nos é proposta, por duas vezes, como aquela que «conservava todas as coisas, ponderando-as no seu coração» (2,19). Ela vos ajude a guardar sempre a Palavra de Deus no vosso coração para fazer dela a fonte luminosa e inesgotável de cada um dos vossos compromissos», concluiu o papa.

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