«Parece que o nosso Deus quer cantar-nos uma canção de embalar
Deus não é apenas Pai, é «papá»: a ternura divina, que se manifesta sobretudo nas feridas de cada pessoa, esteve no centro da homilia do papa na missa a que presidiu hoje, no Vaticano.
O tema foi sugerido pela primeira leitura bíblica proclamada nas missas desta quinta-feira (Isaías 41, 13-20), em que Deus fala ao ser humano como um pai, dizendo: “Não temas, Eu venho em teu auxílio”; e no Salmo (144 (145)) lê-se: «A sua misericórdia estende-se a todas as criaturas».
«Parece que o nosso Deus deseja cantar-nos uma canção de embalar. O nosso Deus é capaz disto. A sua ternura é assim: é pai e mãe», afirmou Francisco, acrescentando: «É o Deus que com este diálogo se faz pequeno para que o compreendamos, para fazer com que nós tenhamos confiança nele».
E se é verdade que Deus por vezes “bate” no ser humano, a sua afeição é mais forte: «É o Deus grande que se faz pequeno, e na sua pequenez não deixa de ser grande. E nesta dialética grande é pequeno. O grande que se faz pequeno e o pequeno que é grande».
«O Natal ajuda-nos a compreender isto: na manjedoura, o Deus pequeno. Vem-me à ideia uma frase de S. Tomás de Aquino, na primeira parte da “Suma teológica”. Querendo explicar “o que é divino?”, “qual é a coisa mais pequena?”, diz: Não ser compelido pelas coisas grandes, mas ter conta das coisas pequenas. Isto é divino, ambas juntas», afirmou.
Depois de acentuar que Deus não só é pai, mas é papá, o Francisco questionou: «Sou capaz de falar assim com o Senhor ou tenho medo? Cada um responda».
«Alguém poderá dizer, poderá perguntar: “Mas qual é o lugar teológico da ternura de Deus? Onde é que se pode encontrar bem a ternura de Deus? Qual é o lugar onde se manifesta melhor a ternura de Deus?», apontou.
Para Francisco, o lugar privilegiado para que o carinho de Deus se manifeste são as feridas, como se salienta na parábola do bom samaritano (Lucas 10, 25-37): «As minhas chagas, as tuas chagas, quando se encontra a minha chaga com a sua chaga. Nas suas chagas fomos curados».