Pelas suas chagas fomos curados…
Jesus, profeta e Messias de Nazaré, foi reconhecido como tal, em primeiro lugar, por aqueles que o experimentaram como benção e cura. Nem sequer os discípulos sabiam exatamente com quem estavam a lidar. Baralhados pelos próprios preconceitos, ainda seguiam “às apalpadelas” o seu Mestre, fascinados pelo Mistério que o habitava e os sinais da chegada do Reino de Deus.
O maior desses sinais foi Ele mesmo vertido em bálsamo e unção. Jesus fez-se terapia em pessoa, identificando-se com o Ungido de Isaías para «anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor» (Lc 4, 18-19)
Curou pela Palavra anunciando um Deus que jamais se “enoja” ou se ofende diante do nosso pecado. Pelo contrário, narrou-nos a história de um Pai “de Misericórdias” com “ventre materno”, cujas entranhas se revolvem para correr junto dos filhos rebeldes e curá-los com os seus beijos (Lc 15,20). E assim nos contagiou um Deus que encontrava no pecado e nas suas consequências as razões mais fortes para amar ainda mais os pecadores…Por isso, Jesus proferiu incondicionalmente e com autoridade esta Palavra de ordem: «Os teus pecados estão perdoados!» (Mt 9,2). Fê-lo antes de qualquer disposição ou intenção de quem o escutava. Proclamou-o como dom gratuito, imerecido, que precedia até o arrependimento. E essa Palavra libertadora e definitiva só pedia o acolhimento da Fé: «Não temas, somente tem fé» (Mc 5,36), «tudo é possível para aquele que crê» (Mc 9,23).
Curou pelo toque humaníssimo tanta gente privada de qualquer compaixão ou contacto humano por causa do preconceito e da lei de Moisés: a começar pelos leprosos (Lc 5,13), cegos (Mc 8,22-26),crianças (Mt 19,13-15), paralíticos (Mc 2,1-12), estropiados e endemoninhados (Mt 8, 14-16). E nessa proximidade, de encontro a encontro, devolveu a muitos a alegria de viver e a dignidade, outrora subtraídas pelas normas sociais e religiosas.
Curou pela Amizade que fez com os pecadores. Não por paternalismo ou piedade, mas numa atitude genuína de afeto e empatia, tratou-os como autênticos filhos do único Pai. Por causa disso, foi acusado com a “infâmia” de ser «amigo de publicanos e pecadores» (Mt 11,19)
Curou à Mesa enquanto convidado e anfitrião de refeições com os indesejáveis (Mt 9, 10), estabeleceu com eles uma comunhão vital, íntima e sagrada. Mas essa iniciativa era uma afronta insuportável aos fariseus e doutores da lei que não admitiam comunhões de mesa com os pecadores, considerando-as uma blasfémia e um sacrilégio. Daí, também lhe acrescentaram a infâmia de «glutão e beberrão» (Lc 7, 31-35). E nessas refeições escandalosas, Jesus assumiu o papel do Deus salvador que acolhe e reúne em primeiro lugar todos os seus “filhos famintos” para uma mesa farta e abundante, cumprindo outro sonho magnífico de Isaías: «O Senhor dos exércitos oferece a todos os povos, neste monte, um banquete de manjares suculentos, um banquete de vinhos depurados, comidas gordurosas, vinhos generosos.(…) O Senhor enxugará as lágrimas de todos os rostos.» (Is 25,6-8)
Curou tanto até Ele mesmo se tornar chaga e se identificar totalmente com o servo de Yahvé: «desprezado e abandonado pelos homens, como alguém cheio de dores, habituado ao sofrimento, diante do qual se tapa o rosto (…). Na verdade, ele tomou sobre si as nossas doenças, carregou as nossas dores. (…) O castigo que nos salva caiu sobre ele, pelas suas chagas fomos curados» (Is 53, 3-5).
Com efeito, foi este amor curador tão remexido na nossa humanidade ferida, que acabou por condená-lo à morte mais infame…morte de cruz. Mas, segundo Isaías, seria esse mesmo sofrimento injusto infligido, a tornar-se para nós causa de salvação. Não porque Deus desejasse vê-lo sofrer assim…mas acima de tudo porque Jesus, fiel ao Amor primeiro que o habitou, estabeleceu uma comunhão profunda com a humanidade inteira. Todos nós, a começar por aqueles que curou e com quem conviveu, a acabar na multidão de quantos deambulavam no reino da morte de todos os tempos, fomos abraçados e incluídos na vida que Jesus doou até ao fim. Era necessário Ele descer à sepultura para, na própria morte, se tornar um connosco… Mas esse não era o fim! Lá, nas profundezas da mansão dos mortos, de mãos dadas com toda a descendência de Adão e Eva, ao terceiro dia foi erguido, levantado do túmulo até às alturas celestes, mesmo à direita do Pai. E porque jamais nos desprendeu as suas mãos… HOJE, somos erguidos, sarados, até um dia alcançarmos também a morada do Pai.
Tudo n’Ele é Salvação, Saúde e Unção,
Todo Ele é para nós Abundante Redenção