Tradições Pascais
A Páscoa é, em Portugal, uma época de inúmeras vivências, de inúmeras tradições, de inúmeras cerimónias.
Em Braga, a semana santa é carregada de fé, simbolismo e tradições: procissão de Nossa Senhora da “burrinha” [quarta-feira]; procissão do Senhor “Ecce Homo” [quinta-feira]; procissão do “Enterro do Senhor” [sexta-feira].
No Alentejo, em Castelo de Vide, os chocalhos celebram alegria; no Algarve, em São Brás de Alportel, a procissão sem Santos; Trás-os-Montes, em Montalegre, a queima do Judas; nos Açores, o Espírito Santo; Coimbra enterra o Bacalhau.
No Domingo da Ressurreição é fundamental a Vigília Pascal. É a noite da celebração sacramental da Páscoa: a Palavra, o Batismo e a Eucaristia.
O Compasso ou Visita Pascal é uma tradição ainda hoje vivida no Norte de Portugal. As ruas são adornadas, saindo pela manhã, indo de casa em casa, a Cruz florida em visita às família. É frequente ser acompanhada por fogo de artifício. As campainhas, que os mais novos transportam, vão à frente a avisar, para que as famílias, familiares e amigos se preparem para receber o Senhor Ressuscitado. A 21 de Fevereiro de 1942, o Arcebispo de Braga, D. António Bento Martins Júnior, referia-se assim a este costume: «A Santa Igreja quer que o seu representante nas freguesias, anjo custódio e pacificador das almas que lhe foram confiadas, percorra os lares do seu rebanho, aspergindo-os com a água lustral, que os guarde, proteja e defenda, como foi defendido o povo de Deus, assinalado na saída do Egito, pelo sangue do Cordeiro, figura de Jesus Cristo. É nesta nobre e santificadora missão que o pároco leva a todas as casas e aos seus filhos espirituais que nelas vivem os seus votos paternais de ressurreição espiritual, eficaz e duradoura».
Não há Páscoa sem gastronomia. Os folares, de norte a sul do país, ganham diversas formas e contam diferente histórias. Tradicionalmente são oferecidos às crianças (especialmente pelos padrinhos).
A lenda do folar [In Diciopédia X [DVD-ROM]. Porto : Porto Editora, 2006. ISBN: 978-972-0-65262-1] da Páscoa é tão antiga que se desconhece a sua data de origem. Reza a lenda que, numa aldeia portuguesa, vivia uma jovem chamada Mariana que tinha como único desejo na vida o de casar cedo. Tanto rezou a Santa Catarina que a sua vontade se realizou e logo lhe surgiram dois pretendentes: um fidalgo rico e um lavrador pobre, ambos jovens e belos. A jovem voltou a pedir ajuda a Santa Catarina para fazer a escolha certa. Enquanto estava concentrada na sua oração, bateu à porta Amaro, o lavrador pobre, a pedir-lhe uma resposta e marcando-lhe como data limite o Domingo de Ramos. Passado pouco tempo, naquele mesmo dia, apareceu o fidalgo a pedir-lhe também uma decisão. Mariana não sabia o que fazer.
Chegado o Domingo de Ramos, uma vizinha foi muito aflita avisar Mariana que o fidalgo e o lavrador se tinham encontrado a caminho da sua casa e que, naquele momento, travavam uma luta de morte. Mariana correu até ao lugar onde os dois se defrontavam e foi então que, depois de pedir ajuda a Santa Catarina, Mariana soltou o nome de Amaro, o lavrador pobre.
Na véspera do Domingo de Páscoa, Mariana andava atormentada, porque lhe tinham dito que o fidalgo apareceria no dia do casamento para matar Amaro. Mariana rezou a Santa Catarina e a imagem da Santa, ao que parece, sorriu-lhe. No dia seguinte, Mariana foi pôr flores no altar da Santa e, quando chegou a casa, verificou que, em cima da mesa, estava um grande bolo com ovos inteiros, rodeado de flores, as mesmas que Mariana tinha posto no altar. Correu para casa de Amaro, mas encontrou-o no caminho e este contou-lhe que também tinha recebido um bolo semelhante. Pensando ter sido ideia do fidalgo, dirigiram-se a sua casa para lhe agradecer, mas este também tinha recebido o mesmo tipo de bolo. Mariana ficou convencida de que tudo tinha sido obra de Santa Catarina.
Inicialmente chamado de folore, o bolo veio, com o tempo, a ficar conhecido como folar e tornou-se numa tradição que celebra a amizade e a reconciliação. Durante as festividades cristãs da Páscoa, o afilhado costuma levar, no Domingo de Ramos, um ramo de violetas à madrinha de baptismo e esta, no Domingo de Páscoa, oferece-lhe em retribuição um folar.