Odes à Ressurreição
À noite de uma sexta-feira, Jesus fora colocado numa sepultura. Segundo a mentalidade oriental todos os que morriam empreendiam uma viagem sem retorno: a descida ao Sheól, ou a mansão dos mortos. Jesus desce do sepulcro para as profundezas da terra. Trata-se da descida à desolação e isolamento mais radicais da experiência humana, separado de tudo e todos - até do Pai…Céus e Terra estão distantes, e Ele desce ainda mais…aniquilado, faz a mesma jornada de todos os filhos de Adão: puxado aos abismos da morte e às profundezas das suas entranhas.
Então eis que Jesus bate no fundo…e entra no Sheól.
MAS a morte, encontrando-o, não o conseguiu devorar, porque n’Ele ainda habitava um Amor invencível.
O mesmo que o levou à paixão e morte de cruz.
Esse Amor, como um cavalo de Tróia, desceu com ele aos abismos e penetrou no covil do inimigo.
Esse Amor não se rende ao senhorio da morte, mas, pelo contrário, exige-lhe e impõe-lhe absoluta rendição.
Em nome do Amor Vivo, escondido na paixão e morte de Jesus, iniciou-se o combate dos combates: o Príncipe da Vida enfrentou a morte e o príncipe das Trevas no seu próprio território…
E eis que, das Alturas, soaram as trombetas dos Anjos. E pela primeira vez, todos os habitantes do Sheól - desde os profetas; David e Salomão, Abraão e Moisés, até toda a descendência de Adão e Eva - despertaram como de um transe. No meio do combate, sente-se subitamente uma aragem de primavera, uma lufada de ar fresco naquele antro decandente e cavernoso. O Evangelho está a acontecer no reino dos mortos! E mesmo no centro do campo de batalha Jesus encontra Adão e Eva, pais dos viventes e dos mortos. E agarrando-lhes a mão, agarra-nos a todos, dizendo: «Eu desci depois de vocês, para conduzir-vos à vossa Herança»
E ao Terceiro Dia, as portas da mansão dos mortos rebentaram e a morte foi revirada do avesso, de uma vez para sempre, de ferrolhos e portões destruídos…e Jesus, Rei da Glória, segurando Adão, Eva e toda a sua descendência, foi elevado ao Pai
A partir desse dia a morte chamou-se PÁSCOA
PASsamos COm Ele pela Aurora da Sua (e Nossa) Vitória!
«Assim, pois, entrai todos na alegria do vosso Mestre! Primeiros e últimos, ricos e pobres, os que vigiaram e os que se deixaram dormir, vós que jejuastes e vós que não jejuastes, alegrai-vos hoje! O festim está pronto, vinde todos (Mt 22,4)! (…) Que ninguém lamente a sua pobreza, porque o Reino chegou para todos; que ninguém chore as suas faltas, porque o perdão brotou do túmulo; que ninguém receie a morte, porque a morte do Salvador dela nos libertou. Aquele que a morte tinha agarrado destruiu-a, Aquele que desceu aos infernos despojou-os...
Isaías tinha-o predito ao dizer: "O inferno ficou consternado quando te encontrou" (14,9). O inferno ficou cheio de amargura porque foi arruinado; humilhado, porque foi entregue à morte; esmagado, porque foi aniquilado. Apoderou-se de um corpo e viu-se diante de Deus; agarrou-se à terra e encontrou o céu; apropriou-se do que via e foi derrotado por causa do Invisível. "Ó morte, onde está o teu aguilhão? Inferno, onde está a tua vitória?" (1 Cor 15,55). Cristo ressuscitou e foste arruinada! Cristo ressuscitou e os demónios foram precipitados! Cristo ressuscitou e os anjos estão em júbilo! Cristo ressuscitou e já não há mortos nos túmulos porque Cristo, ressuscitado dos mortos, tornou-se as primícias dos que tinham adormecido. A Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amén!»
Homília Pascal de S. João Crisóstomo (Arcebispo de Constantinopla), Séc. IV
«A mansão dos mortos viu-me e foi vencida, a morte deixou-me partir; e a muitos comigo. Fui para ela fel e vinagre; Desci com ela à sua mansão, até ao mais fundo. A morte fugiu de Mim, não conseguiu suportar o meu rosto.(…) Os que estavam mortos correram para Mim; gritaram chorando e disseram: «Tem compaixão de nós, Filho de Deus, cuida de nós segundo a tua graça. Liberta-nos das cadeias das trevas, Abre-nos a porta, para sairmos para Ti. Vemos que a nossa morte Te venceu. Liberta-nos contigo, pois és o nosso Salvador.
Então, escutei as suas vozes,
E guardei a sua fé no meu coração.
Nas suas frontes escrevi o Meu Nome (Ap 14,1);
Eles são livres e pertencem-Me.»
Odes de Salomão (Ode 42 – Palestina, séc. II)