Ficar com a vida à soleira da porta
Lembro com saudades as noites quentes de verão,
em que os encontros se davam á soleira da porta.
Ali, até ao começo do correr da brisa suave noturna,
passávamos horas entre conversas, riso e a oração do terço. E a contar as estrelas.
O céu é sempre lindo, mas em noites de verão tem um brilho intenso e especial.
E os grilos cantavam. E a lua brilhava. E as crianças ainda jogavam à bola na rua.
A soleira da porta é um lugar que tocamos para entrar e para sair.
Nem sempre um lugar muito bem definido quanto ao movimento de ir e vir...
As soleiras das portas são os lugares de quem sai,
mas também o lugar do volta-a-trás e o lugar de quem entra.
As soleiras das portas se são lugares de memórias são também expressão do que é a vida humana.
As soleiras podem ser também lugares da indefinição e de indecisões, em que não se entra com a vida toda e não se sai com a vida toda. E sabemos que a vida reclama a vida toda da mesma forma que sabemos que uma casa não termina na soleira da porta.
A soleira da porta é um convite a decidir para onde caminhar: se entramos ou se saímos.
A soleira da porta convida-nos a escolher: a intimidade e o recolhimento ou o barulho e o frenesim constante.
A soleira da porta leva-nos a entender que há momentos na vida em que é essencial mudar de (l)atitude.
E às vezes, curtos ou longos mas firmes e sólidos , os passos que nos distanciam de uma vida plena só precisam de atitude.