E nós perante a pobreza?
A pobreza não pode ser exaltada.
Cada um de nós que tenha passado sérias e profundas experiências de privação material ( entenda-se como bens de primeira necessidade), emocional e espiritual, carregamos ou as feridas que resultaram dessas mesmas privações - quantas ainda não cicatrizadas – que muitas vezes resultam em revolta ou então a vida nos deu sérias lições e somos nós os primeiros a decidir comprometermo-nos em ajudar pessoas a saírem de situações idênticas pelas quais tenhamos passado.
A pobreza não pode ser exaltada.
Essa mesma, a que existe numa lógica de reduzir a pessoa a um número, a um processo, a um cabaz semanal ou mensal, a um registo, a estudos científicos e a dados estatísticos. Nem muito menos a eventos promovidos em nome dos pobres e nos quais os implicados não tiveram voz na decisão, mas que a condição deles é trampolim para palcos de outros.
A pobreza não pode ser exaltada.
Essa que nos separa enquanto cidadãos que partilham uma casa comum, e onde a sofreguidão de alguns resulta na dificuldade de acesso a bens e serviços por parte de tantos. E essa ainda que, de uma forma subtil, cala a nossa consciência – vejam, feliz que ela fica - quando entrega uma moeda a um mendigo.
A pobreza não pode ser exaltada.
No sentido de comodamente ficarmos no nosso canto sem um compromisso efectivo e afectivo com tantos pobres no mundo inteiro, mas muito mais com aquela pessoa concreta que toca a nossa geografia. À nossa escala, à nossa medida, a realidade pode alterar-se para que a vida de tantos não se transforme num deserto. Cada omissão, cada indiferença, tem ecos específicos em pessoas com uma identidade e uma história única e irrepetível.
E nós perante a pobreza?
Nota: Uma reflexão e partilha que pretende de alguma forma ajudar-nos ao compromisso individual e comunitário, neste Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza…e sempre!