Só que (não) houve frutos…
Este tempo que vivemos, semeador do medo, da desconfiança, da incerteza, de isolamento, pode ser, também ele, um tempo de oportunidade. Os terrenos em pousio – quais vidas suspensas – são sempre terrenos mais férteis quando se voltam a cultivar.
É certo que num terreno em que nada se semeia, nada se colhe. Mas também é certo que um terreno aparentemente parado, sem vida, no seu discreto trabalho interior, podem-se estar a gerar o húmus para grandes colheitas.
Medimos a vida contabilisticamente e de repente somos ensinados ou lembrados de que há “tesouros que nem a traça nem a ferrugem consomem”. Os critérios económicos caiem por terra quando pensamos no valor incomensurável de cada pessoa e que esta não vale nem mais nem menos, medindo apenas os seus índices de produção. A realidade parece que nos distancia da esperança, como se de algo inalcançável se tratasse. Este é um tempo em que eu posso desistir de mim ou desafiar-me.
Muitos de nós, podemos sentir-nos paralelemente asfixiados por imensas solicitações, propostas, informações, tarefas… ou podemos escolher viver a vida de uma forma serena e procurando responder ao possível, num momento da história situado.
E é isso que fazem os terrenos em pousio: respondem ao possível. E é este possível que é uma oportunidade de podermos germinar com mais autenticidade, cumprindo o princípio para o qual fomos gerados. Não estamos estagnados, estamos em construção.
E é esta certeza que nos leva cada dia a colocar às costas a mochila da esperança sabendo que, mais à frente e com novo vigor, a colheita é certa. Ainda que não seja eu a fazê-la.