O apego é uma condição própria do ser humano. Pelo lado positivo, pode gerar vinculação, também ela positiva e parte significativa dos laços sociais que estabelecemos uns com os outros ao longo da vida, que validam a certeza de que somos e nos cumprimos na relação com os outros.

Porém, na ordem natural da vida, vamos acumulando números que nos identificam, objectos com significado afectivo, títulos académicos, representações sociais fundadas em crenças pouco ou muito esclarecidas, que nos podem impedir de um diálogo aberto e franco com o mundo inteiro, pensamentos cristalizados que nos fecham à beleza e unicidade de cada ser humano, mágoas que geram feridas que teimamos em lamber sem o compromisso de as cuidar.

A ânsia que nos domina de nos afirmamos, se não for pelo lado do que possuímos, será pelo lado da nossa visão do mundo, pode turbar-nos o olhar de dentro e levar-nos a acumular entulho, levando-nos a que, diante de qualquer outro ser humano não haja mais do que a presença física, sem a exigente e necessária abertura e disponibilidade interior.  

A parábola do “país dos poços” que há tantos anos me apresentaram, volta a surgir-me na mente quando reflito na ordem natural da vida e no quanto ela nos pede de desapego. Este é, em verdade, fonte de uma enorme libertação.

A nossa essência mais profunda revela-se quando desnudados de coisas.

Pensamos sobre o valor da propriedade como se a felicidade e o amor de uma vida estivessem condicionados à posse. Cedo ou tarde cobramos pela entrega, sedentos de retribuição, ávidos de constante validação exterior, como se a própria entrega não fosse já o sinal visível de que já fomos recompensamos porque existimos. Vivemos! Somos!

O desapego, torna-nos livres para vida. A verdadeira e a abundante! Sim, essa, prenhe e plena de infinito!

Na economia do desapego somos sempre convidados a nascer de novo!

E quem não o quer!?