Precisamos de costurar o silêncio
As palavras caiem em saco roto quando ditas sem maturar.
Todos nós sabemos quando isso acontece. Ou porque alguém antecipa a resposta antes que terminemos a pergunta ou adianta a conversa antes de a iniciarmos ou nos interrompe num atropelo desmedido, aumentando o número de sinistros por excesso de velocidade de fazer valer a sua ideia, a sua opinião.
Ficamos sem fôlego e espumamos, gritamos e vociferamos. Vive no mundo uma espécie de grito falante que constantemente rasga o silêncio fecundo. Se não são as vozes exteriores são as que por dentro nos podem atormentar por ausência de arrumação interior.
Precisamos urgentemente de costurar o silêncio. Moldá-lo. Não numa medida que nos caiba, mas na medida dele próprio, oferecido para nos ensinar que parte da cura se encontra nele.
Não é só o tempo um aliado que nos pode dar respostas a perguntas que carregamos pela vida fora, a dilemas que nascem sem que lhes demos licença.
O silêncio é um remédio ao alcance de todos nós. Não aquele que conspira e condescende com o mal, pois esse gera na consciência gritos de alerta.
Costurar o silêncio é uma urgência nos tempos que vivemos. O recolhimento é sempre um espaço de redenção. A agenda do nosso interior é a melhor forma de nos dizer quando precisamos dele. Programá-lo em agendas de papel é apenas querer fazer do silêncio um espaço-tempo que controlamos. Ele existe antes de nós. Em nós.
O silêncio é lugar de grandes encontros. Connosco, antes de mais.
Precisamos de costurar o silêncio.