Elogio do perdão
Volto ao perdão e ao desconfinamento interior e exterior que este nos oferece. Creio que todos nós temos zonas escuras que precisam de luz. De muita claridade.
Quantas vezes essas geografias interiores são acumulação de rancores, vinganças, azedumes que armazenamos ao longo do tempo.
Carregar esses sentimentos ao longo de uma vida é como querer levar às costas um saco de lixo que teimamos em não despejar.
A nossa vulnerabilidade e a firme certeza de que somos imperfeitos seria um bom ponto de partida para o acolhimento do outro como um igual e em processo de construção. Mas nem sempre assim é. Somos humanidade e, por isso mesmo, começada e não acabada. Precária, vulnerável... ainda que divinamente sonhada!
Perdoar continua a ser uma excelente forma de desconfinar, sem que esse acto de liberdade interior nos coloque na mesma relação que anteriormente tínhamos com a pessoa perdoada, que muitas das vezes somos nós próprios.
Os recomeços exigem sempre uma limpeza, seja ela externa ou interna. As mudanças que se seguem a escolhas discernidas, maturadas, deveriam ser para nós um momento de reconciliação com o nosso passado. E com o nosso presente. Caminhamos com pedras nos sapatos. Grandes. Atirámo-las a nos próprios e a outros. Há um certo prazer masoquista em afirmar “eu perdoo, mas não esqueço”! Tornamo-nos reféns da pessoa que nos fez mal, porque lhe damos espaço para que continue em nós. Dentro de nós. Quem nos diz a nós que a memória vai sempre lá estar? Até onde a queremos purificar? Até onde me quero libertar?
Creio que se em algum dia da nossa vida fizermos a experiência profunda de serrnos perdoados, daríamos saltos de felicidade pela decisão de perdoarmos. A nós. Aos outros.
E o perdão, é sempre o ganho de nós próprios e da nossa inteireza.