No meu fim está o meu princípio
A vida, no seu percurso, é constituída por vários fins
e vários princípios.
Um itinerário quase nunca linear, que nos pede capacidade de decisão e escolha,
onde o discernimento é condição fundamental para que a escolha e a decisão
traga paz a nós e à nossa volta.
Somos seres que criamos hábitos e dissecamos a vida em ciclos,
cada um deles com características bem diferenciadas.
Marcamos ritmos e marcamos fins e princípios.
Cada etapa, cada recomeço, poderia ser também ela marcada pela capacidade de destralhar.
Isto vale para os aspectos materiais da vida, como bibelôs e bugigangas que vamos acumulando, num acto de quem precisa da validação material para sentir um pseudo-conforto,
como para estados emoções e espirituais que nos podem escravizar interiormente e tornar-nos reféns dos nossos pensamentos, rituais e rotinas, sem sabor e sem significado.
A nossa escala de felicidade é muitas vezes balizada pela quantidade de bens materiais que possuímos, pelo que herdamos, pelo que deixaremos às próximas gerações em objectos tocáveis.
Cada princípio poderia ser marcado por um ritual de passagem, onde gradualmente vamos deixando para trás o que não nos faz bem.
A liberdade de quem caminha é a liberdade de quem se sente despojado. Desapegado.
A higienização que nos é pedida, as condições para uma vida saudável, dizem respeito a todas as dimensões da nossa vida.
Também àquelas em que cristalizamos os pensamentos, em que embrulhamos emoções e sentimentos sem olhar para eles com carinho e cuidado,
em que marcamos na agenda da semana o cumprimento de rituais farisaicos, sem que isso nos mova na verdadeira conversão.
Precisamos de destralhar.
E isso vale para a arrumação das gavetas externas, como para a das gavetas internas.
Cada princípio, pede-nos um outro fim e a capacidade de deixar a vida fluir de forma transparente, cristalina, sem pontas soltas e assuntos por resolver.
Pois cada fim é sempre o princípio, porventura, de algo melhor e maior na nossa vida.
No meu fim está o meu princípio!